Venho voltando da casa de minha madrinha que acaba de falecer. Voltando da casa de minha madrinha pela rua dourada de casas antigas, trajeto que sempre fiz esses anos todos, mesmo depois que, aos 12 anos, deixei de morar com ela. Da casa de minha madrinha só me resta um tesouro: os olhos daquele garoto que morava numa das casas douradas desta rua. De minha madrinha, agora só me lembro da doçura com que me disse “é um bom menino, estudioso, de família muito trabalhadora, mas ainda é muito cedo para vocês, não é não, querida?” Cedo era, mas nem por isso apagou-se a lembrança do coração disparando todas as tantas vezes em que, indo ou vindo por esta rua, meus olhos tropeçaram nos dele, fixos em mim, iluminando-lhe o rosto emoldurado pela janela de sua casa dourada. Muito tarde para lembrar, mas não esqueço nem a tola cumplicidade da nossa timidez, seus olhos a escorrerem juntos com os meus até o chão da rua, bem ali adiante, onde ainda está a casa dourada em que ele morava. Ao passar em frente a ela, sou fisgada pelos mesmos olhos que me seguiram esses anos todos. Meu coração dispara enquanto, pela primeira vez, nossos olhos se mantêm interligados, sem escorrerem até o chão da rua. Mas os dele não me reconhecem, e os meus também não reconhecem o dono deles. Pouco importa. Venho voltando da casa de minha madrinha pela rua dourada de casas antigas, tão dourada como no tempo em que a vida morava aqui.
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Fonte da imagem:.http://daijoji.blogspot.com
45 comentários:
...momentos...
:)
Un blog genial además de bonito.
Muchas gracias por compartir.
Momentos dourados e inesquecíveis! Beijos... adorei!
Feliz fin de semana.
Un saludo.
A rua não era dourada, mas os olhos... ai, me deu saudade! Você não podia fazer isso comigo, Anga...
Lindo, Anga!
Me comovi lembrando de alguma coisa.. não sei bem o quê. Certos textos me causam essa sensação. Será alguma patologia?
Beijos
...ficções...
...delírios...
...falta de assunto..., Ulisses!
Muchas gracias, ManGo68.
Obrigada, Carmem.
Pra você também, Disancor. Um saludo
Desculpe, Marcia. Sugira um tema menos perigoso que postarei sobre ele, para me redimir... Bjs
É patologia, sim, Tita. E grave! A tal de "sensibilitite"... Bjs
Belo texto, Anga.
Bjs
Maravilhoso. O ritmo com que a frase inicial vai sendo repetida e fragmentada imprime uma contenção que valoriza o instante em que a emoção explode e doura, mais que a rua e as casas, todo o espaço das reminicências. Beijo
ReminESSÊNCIAS...
Sendo ficção ou não, belo escrito.
Menina, para bens duráveis, vida longa.
BJINS.
Obrigada, Thiago.
Puxa, Aline, gostei de ver a história por esse ângulo. Obrigadíssima! Beijo
Obrigada, Paulo Jorge. Tentarei seguir à risca a sua receita. Bjins
Gosto desse seu lirismo natural, expresso com sutileza, sem excessos dramáticos. Bjs
Tenho algumas histórias na minha vida que se parecem com esta, Anga. Mas não sou capaz de contar nenhuma delas com essa força, nem saberia resumi-las numa só com tanta expressividade e delicadeza. Mas posso me deliciar revivendo-as através do seu talentoso texto. Obrigada.
Beijos
Lindo texto, Anga. Me emocionei! Bjs
Valeu, Luis Paulo. Vou esfregar seu comentário na cara do Tuca e do Teopha, que vivem dizendo que sou muito romântica e melodramática! Beijos
Eu é que agradeço, Vera. E não seja tão modesta, você escreve muito bem. Beijos
Que bom, Maria Regina! Beijos
Waw! Inteso, mágico, cândido e belo! ;) Saudosista pela temática... belamente cadenciado e descrito.. ;)
Ah, pode postar temas "perigosos". Reclamo, mas gosto! Beijos.
Obrigada, Francisco!
É uma honra tê-lo aqui, poeta.
Vou voltar com calma ao seu blog, mas pelo pouco que li já deu para perceber o seu talento poético. Os dois sonetos mais recentes são inspirados e tecnicamente muito bem construídos. Abraços
Eu entendi, Márcia. Disse aquilo ironicamente, para provocá-la. Deu certo: você voltou aqui, o que é sempre um prazer para todos nós.
Beijos
Bacana, Anga. Um belo conto com pinta de crônica. Ou será o contrário?
Bom domingo!
Uma delícia de conto, Anga. Com o mesmo lirismo encantador do poema que você postou recentemente.
Beijos
Arlete
Olá minha cara,
Vim conhecer seu espaço virtual e agradecer a visita e interesse em seguir meu trabalho com a poesia. Seja sempre bem vinda aos meus espaços poéticos. Bj,
Úrsula
Anga, texto muito bonito, emociona!
bjs
Sensibilizador documentário "Nos Olhos da Esperança". Link: http://goo.gl/b/qnZh - É verdade, justiça tardia é injustiça!
Talvez a vida não tenha se mudado.
Ma tulen tagasi oma ristiema maja mööda tänavat kuldne vana maja, nagu kuldne aeg, mil elu oli siia elama.
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sursa imagine:.http://daijoji.blogspot.com
Putz!!!
Eu arrepiei aqui.
Texto muito bem escrito, e cheio de sentimentos.
Adorei os regressos e voltas no tempo!!!
perfeito.
Obrigada pela viista no meu blog.
Abraço.
Anga, muito lindo o ambiente das casas douradas. Muito bom o seu dar de ombros para o presente, pois trás em si as ruas e casas douradas do passado. Você é mesmo muito rica. Parabéns.
Abraço do Jefhcardoso
Texto lindo, sensível <3 Adorável!
Pode ser um conto, pode ser uma crônica sobre fatos fictícios. Você decide, Deco. Boa semana. Beijos
Obrigada, Arlete. Beijos
Esteja em casa, Úrsula. Voltarei aos seus espaços, para apreciar poemas. Beijos
Obrigada, Patrícia. Ótimo saber que você se emocionou. Beijos
Acredito que a vida nunca pára num canto, num tempo. Se parasse, não haveria por que se fazer poema, caro Por que você faz poema? Beijos
Bem-vindo, DeusSemAteusAdeus! Se quiser, fique à vontade para escrever seus comentários em português. Temos dificuldade de ler em estoniano, mesmo recorrendo à tradução on line.
Seu segundo comentário, em romeno, pude ler, mas o entendi menos ainda. Ou seja, esqueça tudo o que eu disse no parágrafo anterior e escreva em estoniano mesmo. Kisses, pupici e beijos (ou Küsse ou ciuman ou Համբույր ou נשיקות ou 吻...)
Nossa, que maravilha, Nine. Fico muito envaidecida com tudo que você diz. Eu é que agradeço a oportunidade de conhecer seu blog e você. Beijos
Obrigada, Jefh. Quanto ao dar de ombros da personagem (e não meu) na verdade não é para o presente, mas para o passado, que ela nem ninguém pode mudar ou a ele ficar preso. Mas isso é o meu entendimento, nada impede que cada um tenha a sua leitura. Beijos
Belíssimo texto, menina! Uma pérola... dourada. Uma breve e comovente viagem ao passado, sem saudosismo ou pieguice.
Anga,
Rua dourada, anos dourados!
Muito Bom.
Saudade sem dor, leve.
Vou voltar.
bj
Lindo, Tutuca... texto e imagem...
adorei!!
Ah, a foto era mesmo da Maíra com o Xamã... acertou em cheio!!
beijinhos
Oi! Obrigada porque pasou por meu blog!! O seu é muito bom!!! Gostei muito dele!!! :) Vou seguir vocé ;) rs rs rs.
Gostei muito da historia tambem :)
Bjus!!!
(Qué bom que vocé é do Río!!! vou ir um día pra lá! Muito bonita cidade!)
Obrigada, Virgínia Allan querida. Desculpe ter pulado o seu comentário na minha resposta anterior. É que só depois de postar a resposta encontrei o comentário na moderação. Saiba que tem um sabor muito especial ouvir essas palavras vindas de uma grande, AMAZÔNICA escritora!
Beijos
Valeu, fiel leitor e amigo Mendonça!
Beijos
Obrigada, Ira. Volte mesmo, e pode me aguardar também no seu Faces do Poeta.
Beijos
Cla, queridona, quando é que você e outros leitores mais íntimos do Tuca vão parar com essa mania de chamá-lo de Tutuca. Nada contra, não. Só tenho é um certo medo de que vocês comecem a me chamar de Angagá...
Quanto à Maíra e seu cavalo Xamã, foi moleza para o Tuca indentificá-los na bela foto que você postou. Ele é especialista em retaguardas eqüinos. Ainda mais em se tratando da retaguarda de uma potranca escultural como a Maíra...
Beijinhozões
Bem-vinda, Niña. Seu blog é novo mas já promete, por suas opiniões sinceras e firmes, geradoras de polêmicas.
Apareça mesmo no Rio, será um prazer recebê-la.
Beijos
é de todo maravilhoso saber e ler tais palavras no meu blogue perante um texto escrito por mim. Agradeço imenso o comentário, e além do mais, venho aqui não só para agradecer mas como também para lhe felicitar o espaço fantástico que aqui tem.
É de todo o meu agrado ler-lhe.
Parabéns por cada palavra sua, por cada opinião. Muitos parabéns mesmo :)
Beijoo *
Obrigada, obrigada, muito obrigada mesmo, Soraya!
Beijoooo
Olá Anga
Obrigada pela visita e pelos elogios também :)
Fique à vontade e use qualquer imagem minha.
beijocas
Parabéns pelo texto, de alguma forma eu cheguei a pensar que estava lá na rua dourada ^^
Vou cursar letras no próximo ano, um texto como este só me reforça a idéia do que quero.
E aproveito para agradecer a visita =)
Continarei acompanhando o blog,um estímulo maior para seguir com o curso que escolhi.
Beijos!
Obrigada, Ana.
Em breve postarei algum texto ricamente ilustrado por um de seus trabalhos.
Beijocas
Você tem o prazer da escrita, Karen. Vá fundo no curso!
Beijos!
Nossa Anga..que post mais lindo, uma declaração de amor pelos olhos de uma menina de 12.Pena que o dito cujo nao reconheceu tamanha sensibilidade!!
Outro reconhecera com certeza( se ja nao o fez..rsrs).
Ter um dom desses como o seu é uma dádiva!Para os que não têm, nos deliciamos com textos como o seu!!
Beijocas!
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