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Adelíria & Liradélia
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Líria
Porto e Adélia Prado se conheceram numa vendinha de beira de estrada ali pras
bandas de Bambuí, que fica mais ou menos a meio caminho entre Araxá e
Divinópolis. Isso, já lá se vão seis
décadas: Líria tinha 9 anos e Adélia, 19. Encostada no balcão, Adélia tomava um
Sustincau e escrevia num pedaço de papel de embrulho. Líria comia uma maria
mole e xeretava a loja toda. E quando percebeu aquela moça bonita quieta no seu
canto, tratou logo de ir bulir com ela:
– Fazendo
o para casa, moça?
– Ahn?...
Ah, não. Estou só anotando umas besteiras.
– Oba!
Besteira é comigo mesma, uai. Posso ler?
–
Bem, não sei se você vai gostar – disse Adélia, estendendo o papel para a
menina.
–
“Enquanto tu me vês esbaforida, a perseguir o rastro de uma estrela intangível,
eu lavo e passo, serenamente, a tua fantasia de nunca vestir...” – Líria leu em
voz alta. – Caralho, quanta palavra
bonita da porra!
– Cruz
credo, você é desbocadinha, hem?
–
Melhor que desbundadinha, né não?
–
Verdade. Além do que não sou contra os palavrões, apenas conheço poucos, quase
nenhum, sabe?
– Se
quiser te ensino uns oitenta ou noventa. Só dos bem cabeludos, sei mais de
vinte!
–
Façamos o seguinte, Líria. Você me ensina um palavrão para cada palavra bonita
que eu lhe ensinar. Pode ser?
–
Topo. Mas por cada palavrão cabeludo cobro cinco palavras bonitas. E o maior de
todos custa dez!
–
Qual é?
–
Pagamento adiantado...
–
Certo. Lá vai: clarineta, península, catedral, girassol, embevecido, plenilúnio,
cordilheira, pérola, astrolábio e alumbramento. Cadê meu palavrãozão?
–
Enfia no macambúzio da itaquaquecetuba!
E
dessa animada troca de vocabulário nasceu uma amizade tão promissora que Líria
e Adélia logo criaram uma dupla: Adelíria & Liradélia. Desde aquela época
até hoje, elas têm se apresentado nos mais variados palcos de Minas e cercanias.
Fantasiadas, as duas cantam e dançam juntas ritmos que vão do cateretê ao
cancan. Mas a grande atração do espetáculo é o momento em que Liradélia declama
seus poemas, sempre pontuados pelos impropérios de Adelíria. Por exemplo:
Liradélia
– Te espero e não me canso, desde, até agora e para sempre...
Adelíria
– Um empata foda, esse puto!
Liradélia
– ...amado que virá para pôr sua mão na
minha testa...
Adelíria
– Procurando nela seus próprios chifres, cornudo!
Liradélia
–...e inventar com sua boca de verdade
o meu
nome para mim.
Adelíria
– Maria Fode Nunca!
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Rossana e suas bruxarias high tech
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Maga pós-moderna, Rossana Mazza Masieiro causa repulsa e indignação nos meios bruxológicos conservadores. Para começar, onde já se viu uma bruxa assim, bonita e gostosa – sem olheiras e boca banguela, sem cabelos ressecados e desgrenhados, sem narigão adunco e três ou quatro verrugas espalhadas pelo rosto? Além disso, Rossana só trabalha com equipamentos high tech. Seu caldeirão dispensa colherão de pau e fogueira: gira movido a motor, tem timer e esquenta por microondas. Sua varinha mágica é a laser e multifocal, o que permite, por exemplo, que ela, com um único gesto, transforme em sapo dúzias de príncipes ao mesmo tempo. E tem mais: ela só aparece montada numa vassoura porque, nos anos 50, quando George Petty desenhou a imagem fonte que usei aqui, eram nessas geringonças jurássicas que as bruxas voavam. Mas se vocês olharem na garagem do luxuoso e aconchegante consultório da Rossana, verão estacionados lá três ou quatro aspiradores de pó, cada um mais potente e lindão que o outro!
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Therezão, meu spray de banana-passa
Minha amiga Thereza Duarte não é tão linda quanto a Ava Gardner. É mais, muito mais linda. Fazia neguinho engasgar com a comida e derramar o chope quando adentrava o Café Lamas na época em que a conheci: final dos anos 70. Hoje essa cinquentinha esfogueada me parece ainda muito bonita, o que vem reforçar a minha tese de que quem vive e convive com gentileza e bom humor não fica feio nunca. Além dessas duas belas qualidades, Thereza tem ainda uma outra que julgo digna de figurar no Guinness: a de melhor mau hálito do mundo. Sabe essas reuniões de trabalho no final do expediente, quando todo mundo está com a barriga roncando e a boca expelindo odores que variam entre o de carniça e o de cocô? Pois quando minha amiga participava o ar ficava mais respirável, como se inundado de aromas primaveris. Porque o mau hálito da Thereza tem – acredite se puder – cheiro de banana-passa!
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Luana Dias... e Noites
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Luana luana
lua e iguana/ filha hermana
bela bacana/ copa cabana
água murana/ voa chalana
terra cigana/ vai caravana
arde e abana/ beija e esgana
a vida insana/ a fé que engana:
zarabatana.
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Arlete Zadra , o abacaxi descascado
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Única árvore da família das plantas bromeliáceas, a Arlete Zadra é encontrada somente numa pequena região do Brasil, um inusitado enclave de mata madagasquenha em pleno pantanal matogrossense. Classificada botanicamente como Ananas Zadrii , irmã portanto dos abacaxis, ela não oferece o risco de arranhar quem consome o seu dulcíssimo fruto, porque este já nasce descascado. De hábitos frugais, essa sensual espécie vegetal costuma fazer longas caminhadas por todo o seu habitat, além de praticar ioga, artes marciais, levitação, cerâmica maiólica, palavras cruzadas e badminton.
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Urubula Ribeiro
Esse uniforme aí – você tem razão, leitor – é horroroso. Mas releve, porque o Lula Ribeiro, que é o que de fato importa, até que ficou bem bonitinho, né? E ele é um urubu do bem, só come carniça de animais predadores, como certos políticos, magistrados, apresentadores e locutores de TV, síndicos, vizinhos fofoqueiros, religiosos que fazem sermões contra a nossa vontade, sogras e vendedores de telemarketing. Mas, é claro, depois ele toma medicação pesada para prevenir problemas gastrointestinais, surtos psicóticos e até morte por envenenamento. Lula mora na Ilha do Governador, mas se o Pesão aparecer por lá será comido na hora, garante o nosso amigo. Mas vivo, Lula??? “Vivo é o cacete” – diz ele. – “Esse é um dos muitos que já bateram as botas e não sabem!”
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Sylvio de Alercanguru
Sylvio de Alencar começou sua vida de marsupial como gambá, e até chegar a canguru cumpriu um árduo percurso. “A vida de gambá não era fácil” – diz ele. – “Por causa do odor nada agradável que a espécie exala, as garotas não queriam nem papo comigo. E ainda tinha de aturar a zoação de me chamarem de Esgoto Ambulante, Zé Peidão, Perfume de Lombriga...” Então Sylvio se tornou um coala, bicho mais cheiroso e bonitinho cujo temperamento dócil combina bastante com nosso amigo. O problema é que os coalas são caçados implacavelmente por muitos animais e pelos aborígenes, já estando seriamente ameaçados de extinção. Daí Sylvio tentou ser um Diabo da Tasmânia, o mais feroz dos marsupiais. Mas não conseguiu passar no vestibular, desclassificado por desistência, após perder onze dentes tentando devorar um tatu. Já estava conformado com a idéia de ser um gambá até o fim de seus dias quando, por muita sorte, há três meses pintou uma vaga para canguru em Vinhedo, megalópole que fica na fronteira do Sul da Austrália com o Nordeste de São Paulo. Sylvio está feliz da vida com seu novo status, quase não se importando com o fato de as canguruas possuírem duas vaginas, o que seria até maravilhoso se isso não implicasse em ter um pênis bifurcado, o que, além de ainda causar-lhe uma baita confusão mental durante o coito, gerou-lhe um novo apelido que detesta: Forquilha de Estilingue.
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