domingo, 24 de abril de 2011

Ser e outras miudezas

.
.


Ser

Ele não era o ipê no quintal. Ele não era o balanço no ipê do quintal. Ele não era o menino no balanço do ipê no quintal. Ele era (e ainda é) o quintal.

.

Decisão

Se eu me pego um dia inteiro feliz ao lado dela, eu nunca mais me largo.

.

Materialistas, jamais se imaginaram diante de Deus ou do Diabo. No velório de um, o adeus do outro: “A gente se vê, amigo, diante do Espanador.”

.

Colo

Salvou-a da enchente e levou-a no colo até em casa. Como se fosse ela e não ele a rã, como se fosse ele e não ela o hipopótamo.

.

Critério

Mataria mulheres: “Todas, da mais feia à mais bela. Não, da mais vil à mais pura. Não, da mais rica à... Merda! O que atrasa a vida da gente é esse tal de critério.”.




Sépia

Saiu de um canto da sala de onde nunca saíra nada. Os olhos uivavam faíscas de todas as cores, mas sépia era o silêncio dos lábios.

.

A ponte

São um casal, de fato, se o que os liga é apenas uma velha ponte sem tráfego – exceto o aéreo, dos muitos que dela se jogam o tempo todo?

.

O físico do tempo

“Os astros sabem que o tempo é de carne e osso”, concluiu enquanto observava o sol sangrar o entardecer.

.

Janela da fama

Sentou na janela e gargalhou, cantou, fez careta, cuspiu, xingou a multidão lá embaixo, tirou a blusa, balançou os seios, tirou a saia e a calcinha, rebolou de quatro, desequilibrou-se e caiu doze andares, morrendo de rir.

.

Amor sombrio.*

“Amo o chão que tu pisas”, disse a lesma, seduzida pela sombra da borboleta que voava.

.

@ . . . ... . . @ . . . ... . . @

. .

*.Inspirado em texto (abaixo) do blog El Loco de los Caramelos:

1- Un Gusanomio poeta.
Amo tu sombra” Escribió el Gusanomio poeta a su amada, y efectivamente cumplió su verso siendo un rastrero amor de verano.


quinta-feira, 21 de abril de 2011

Lula à Presidenta - 2: O preparo

.

Enfim, eis a nossa fantástica receita para fazer um delicioso prato de lula à milanesa substituindo o molusco cefalópode por luvas de cozinha. Como informamos na postagem anterior, tivemos um pequeno probleminha com nosso parceiro Teophanio, que precisou ser internado numa UTI depois de ingerir algumas garfa.das da excelsa iguaria criada por nós.

Queremos tranqüilizar a todos vocês, nossos queridíssimos leitores: as luvas de borracha passam bem. Já o Teopha, está meio tonto como sempre, mas já deixou a UTI, onde foi comprovado que seu delicado estado de saúde nada tinha a ver com uma possível indigestão causada pelas luvas. Os exames constaram que seu sangue apresentava elevadas dosagens de groselha, querosene, creolina e álcool gel. Parece que o vinho que compramos para acompanhar o prato não era dos melhores.

E vamos à receita:

Lula à Presidenta

Ingredientes e apetrechos

– Um par de luvas de cozinha. (À venda nas melhores lojas de R$1,99. Pra economizar mais um pouco, você pode usar esse par que tem aí na sua cozinha, essa nojeira que já devia ter ido pro lixo há tempos, né não, colega?)

– Um ferro a carvão. (Os elétricos têm custo direto mais baixo, porém andam consumindo mais árvores: as milhões que são submersas na construção das grandes barragens hi.drelétricas. É mais cristão queimá-las que afogá-las, certo?)

– Dois ovos. (Os do maridão não servem, querida. Se já os colheu, congele-os, para serem aproveitados em receita a ser postada em breve: Ana Maria à Braguilha.)

– ½ kg de farinha de rosca. (Sua rosca não passou no teste da farinha? Não tem problema. Guarde-a para a mesma receita com os ovos masculinos, não necessariamente no mesmo saco.)

– 10 kg de alho. (Mão pesada na hora de adicionar o alho. É ele que apura o sabor da lula fake, abafando eventual gosto de borracha queimada.)

– 200 g de manteiga francesa Président. (À venda nas melhores delicatessens de 1,99 euros. Se precisar baixar a taxa de colesterol, aumente a taxa de juros, substituindo a manteiga por Mantega.)

– Três garrafas de vinho paraguaio El Vinagrero, tinto. (Para evitar constrangimento com algum convidado mais frescalhão, baixe pela internet, imprima e cole na garrafa um rótulo de Roma.née.- .Conti.)

M.odo de preparar

. . . . . . . . . Elza – Eu coordeno os trabalhos, certo? Teopha, vá lavar as luvas lá no tanque. Tuca, leve o ferro pra encher de carvão. Anga, vá descascar alho.

. . . . . . . . . Anga – Oba!

. . . . . . . . . Tuca – Eu, sempre levando ferro.

. . . . . . . . . Teopha – Vá lavá as luvas lá.??? Tipo assim, Ivo viu a uva da véia?... Buchicho de baixinho no bucho da Xuxa?

. . . . . . . . . Elza – Lave as luvas e tudo isso bem lavadinho, Teopha. E depois você mesmo vai fatiá-las.

. . . . . . . . . Teopha – Devo calçá-las antes de meter o fa.cão?

. . . . . . . . . Anga – Não!... Você sabe que não como carne vermelha.

. . . . . . . . . Teopha – Vermelhas são essas luvas. Minha carne é alva e saborosa como minha alma. Sou um badejo melhorado.

. . . . . . . . . Tuca – Cadê o fio da tomada do ferro?

. . . . . . . . . Elza – Não falei que o ferro é a carvão, i.di.ota?

. . . . . . . . . Tuca – Vamos churrascar as luvas?

. . . . . . . . . Elza – É só seguir os passos na ilustração (acima) .que o Teopha fez. Você tem de passar as luvas para esticá-las bem.

. . . . . . . . . Teopha – Pega leve, Tuca. Se esticar de mais vão ficar a cara do Sílvio Santos.

. . . . . . . . . Elza – Tá abrindo esse vinho pra quê?

. . . . . . . . . Teopha – Pra encher a cara, ora. Ou você imagina que eu vá gastar vinho pra lavar a luva véia da vulva do Ivo?

. . . . . . . . . Anga – Teopha, você está bêbado!

. . . . . . . . . Teopha – Claro que estou. Alguém tinha de fazer o sacrifício de tomar uma garrafa inteira desse vinho vagabundo para experimentar.

. . . . . . . . . Tuca – E que tal.?

. . . . . . . . . Teopha – Querosene do bom, cara. Chato é o gosto de groselha e o cheiro de creolina.

. . . . . . . . . Elza ­– Pois bem, Teopha, poupe as outras duas garrafas do purgante, que são para acompanhar o prato. Agora, pessoal, já esticadas e picadas as luvas, tem de temperá-las e passá-las nos ovos.

. . . . . . . . . Tuca – O Teopha faz isso, que os meus têm alergia a luva de borra.cha muito temperada.

. . . . . . . . . Teopha – Tô fora. Os meus são alérgicos até a peitos de silicone caramelados.

. . . . . . . . . Elza ­– Não é nos de vocês, seus pacóvios. Tem de passar é nos ovos da galinha!

. . . . . . . . . Anga – Sabia que ia sobrar pra mim...

. . . . . . . . . Elza ­– Teopha, espalhe a farinha no prato. Tuca, pegue a manteiga francesa.

. . . . . . . . . Tuca – Nosso último tango em Paris, Elza Schneider?

. . . . . . . . . Elza ­– Tolinho. Dissolva logo a manteiga na frigi.deira pra fritarmos a petisca.da.

. . . . . . . . . Teopha ­– Ululalá! Petista.da frita!

. . . . . . . . . Anga – Petis-CA.-da, Teopha. As petistas que lhe dã.o mol.e já estão mais do que fritas.

. . . . . . . . . Teopha ­– Que isso, Anga! Todo mundo sabe que sou super--fi.el a todas elas.

. . . . . . . . . Tuca – Essas luvas fritando têm um cheiro tão brabo que até as canalhices do Teopha estão me cheirando bem.

. . . . . . . . . Elza – Psiu! Fale baixo senão os leitores podem acabar não aprovando totalmente a nossa receita.

. . . . . . . . . Teopha ­– Claro que eles vão aprovar. Eu quero até acrescentar que, caso alguém não encontre no..mercado as luvas de borracha, elas podem ser substituídas, sem qualquer perda de qualidade, por duas dúzias de camisinhas ou um par de havaianas usadas.

. . . . . . . . . TODOS – Vão nessa que é quentíssima, leitores. E bom apetite!

domingo, 17 de abril de 2011

Lula à Presidenta

Esta revolucionária receita substitui o molusco cefalópode por luvas de cozinha, produto igualmente de consistência borrachosa, difícil de mastigar e com gosto de orelha mal lavada, mas muitíssimo mais barato..Tuca, Anga, Teopha e eu criamos o prato, o testamos e o aprovamos – por um voto acidental a favor, duas abstenções por enjôo e uma por internação em UTI (do Teopha, que, ao que parece, contrariando a expectativa de muitos, sobreviverá).

Elza Magna

Tente controlar a sua curiosidade, que postaremos todos os ingrediente e o modo de preparar o nosso Lula à Presidenta assim que o Teopha receber alta do hospital e terminar de comer o prato fundo da iguaria que largou praticamente cheio.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Ninguém é de ferro

.

.

Quem com ferro ferra, com ferro será ferrado.

.



.............. .Caça à raposa

.............. .............. ... ....... ..... (João Bosco e Aldir Blanc)

.

.............. .O olhar dos cães, a mão nas rédeas

.............. .E o verde da floresta

.............. .Dentes brancos, cães

.............. .A trompa ao longe, o riso

.............. .Os cães, a mão na testa:

.............. .O olhar procura, antecipa

.............. .A dor no coração vermelho

.............. .Senhoritas, seus anéis, corcéis

.............. .E a dor no coração vermelho

.............. .O rebenque estala, um leque aponta: foi por lá.

.

.............. .Um olhar de cão, as mãos são pernas

.............. .E o verde da floresta

.............. .Oh, manhã entre manhãs

.............. .A trompa em cima, os cães

.............. .Nenhuma fresta

.............. .O olhar se fecha, uma lembrança

.............. .Afaga o coração vermelho:

.............. .Uma cabeleira sobre o feno

.............. .Afoga o coração vermelho

.............. .Montarias freiam, dentes brancos: terminou

.

.............. .Línguas rubras dos amantes

.............. .Sonhos sempre incandescentes

.............. .Recomeçam desde instantes

.............. .Que os julgamos mais ausentes

.............. .Ah, recomeçar, recomeçar

.............. .Como canções e epidemias

.............. .Ah, recomeçar como as colheitas

.............. .Como a lua e a covardia

.............. .Ah, recomeçar como a paixão e o fogo

.

domingo, 10 de abril de 2011

Cruz credo, hoje é dia de Ozo!

.. Anga Mazle . . .

. . . . . Tirem as crianças da sala, lacrem com piche bento o fiofó dos cães, do papagaio e das piabas! . . . . .

. . . . . António Cabrita soltou há pouco na praça, bem no átrio da Matriz de Maputo, uma oceânica récua de poemas do nefando Ozo! . . . .

. . . . . Eis uma provinha:. . . . . . . .

.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Quando a despi

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . no vértice que crisma

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . .. . .a noite, no lugar

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . .onde as águas se juntam

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ao sorvo das éguas

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . e as pernas se abrem,

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . loquazes,

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . tinha um donuts.

.

.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Ainda se o bigode fosse a mielas

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . .mas era só dela

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . a tipa era mão de vaca e não

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . emprestava nem um bocadinho

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ao mano,

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . .uma cara encovada

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . e sem um pêlo para amostra,

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . como um cu

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .enfiado em si mesmo.

.

.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . – o nevoeiro desponta

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . quando a Nossa Senhora

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . repousa os seios

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . em terra.

.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . – tens a certeza?

.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . – pelo menos foi

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . o que a minha mãe

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . me disse.

.

.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . se conseguires encostar

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . a orelha à tua sombra

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ouvirás o mar

.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . mas tem de ser

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . com os pés no ar.

.

.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 (os sítios indevidos)

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . – senhor juiz, no momento

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . foi impossível furtar-me

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . a medir trinta passos

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . na vereda estreita do sexo dela,

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . que aliás se dilatava à passagem.

.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . – e o senhor não ouvia o culto

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . no santuário do Cristo Rei?

.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . – estava vento e o arvoredo

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . só me deixava ouvir

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . uma briga de andorinhas.

.

.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . a congeminada artrite das palavras,

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . a sua mordedura,

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . cálida,

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . e por vezes absurdamente

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . tolerante,

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . leva-me a confiar

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . mais na escalada dos teus seios.

.

.

.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . *. . . . . . . *. . . . . . . *..

.

.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. Ai, Jesus,

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. meu Jesus Cristinho,

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. agrilhoa para sempre

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. a car.caça do Cabrita

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. (e ainda depois do sempre,

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. a alma do gajo) ao exílio

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. voluntário em Maputo –

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. e lá mesmo enterre já esse Ozo

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. a sete palmos de aço tedesco,

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. antes que o sátiro – e suas

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. moelas do Tinhoso –

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. de riso e orgasmo e flato

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. nos linchem a todos!

.

Leiam mais, muito mais, se a falta de escrúpulos pundonorosos assim o determinar, aqui !