domingo, 31 de janeiro de 2010

Três pontinhos nada reticentes

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Quem conta um conto

aumenta um ponto...



Logo, quem conta um ponto aumenta um conto. E quem conta três pontinhos aumenta três continhos. E quem conta um conto sobre três pontinhos aumenta um pontinho sobre três contos. Ou será que aumenta três pontos sobre um continho? Ou... bum!... lá se foi a minha parelha de neurônios, que a minha lógica é tão desastrosa quanto a minha aritmética, e quando as duas se encontram é curto-circuito na certa!

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Bem, só tenho uma saída: pedir um help ao Solano, que sabe tudo sobre ponto e três continhos. Ou sobre conto e três pontinhos, sei lá... Ele que decida por mim.

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– Alô!

– Solano?

– Não. Mariola.

– Prazer, Mariola. Aqui é o Paçoca. Eu queria falar com o Solano.

– Solano Lopes?

– Não, Guedes. Solano Guedes, o cara dos três continhos. Ou dos três pontinhos...

– Serve três porquinhos?

– Não. Só três pontinhos. Ou três continhos.

– Tá. Vou ver se tem algum desses aqui.

– Eu espero.

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– Alô!

– Solano?

– Sim.

– Solano Guedes?

– Não. Solano Lopes.

– Vá se danar!

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Bati o telefone na cara dele. Era o Solano mesmo, tenho certeza. O Guedes, safado, sempre me sacaneando. Mas hoje não estou pra brincadeiras. Azar o dele. Eu ia falar aqui sobre o livro que ele lançou, A história dos três pontinhos. Pois agora não vou mais. Ia dizer que é um trabalho muito bom, que pode ser lido com prazer por crianças de 8 a 80 anos. Pois agora não vou mais. Pretendia contar, inclusive, como me impressiona o seu jeito de criar, sempre trabalhando texto e imagem ao mesmo tempo. Pois agora não vou mais. Não vou mesmo. E conto. Digo, e ponto.

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Ah, e jamais mencionarei que o livro saiu pela Vieira & Lent Casa Editorial.

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sábado, 30 de janeiro de 2010

Desaparições noturnas

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Três faces da Lapa boêmia
nos versos de Alexei Bueno

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. . . . . . . . . . . . . . . . . I.M.L.

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. . . . . . . . . . . . . . . . . Na porta do boteco
. . . . . . . . . . . . . . . . . Com flores de coroas
. . . . . . . . . . . . . . . . . Que oferta às moças boas
. . . . . . . . . . . . . . . . . Ele ergue o seu caneco

. . . . . . . . . . . . . . . . . De alumínio gravado
. . . . . . . . . . . . . . . . . Com o escudo do seu time,
. . . . . . . . . . . . . . . . . E conta o último crime,
. . . . . . . . . . . . . . . . . E olha o bordel fechado.

. . . . . . . . . . . . . . . . . Sorrindo no balcão,
. . . . . . . . . . . . . . . . . Beberica e, prudente,
. . . . . . . . . . . . . . . . . Fita a vaga onde, em frente,
. . . . . . . . . . . . . . . . . Deixou o rabecão.

. . . . . . . . . . . . . . . . . Então, se há um que lhe peça
. . . . . . . . . . . . . . . . . Que lembre do seu carro,
. . . . . . . . . . . . . . . . . Diz, dando um grosso escarro:
.. . . . . . . . . . . . . . . . .– Defunto não tem pressa.

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. . . . . . . . . . . . . . . . . OCASO
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. . . . . . . . . . . . . . . . . Os velhos travestis estão cansados.
. . . . . . . . . . . . . . . . . Suas custosas curvas se enrijecem.
. . . . . . . . . . . . . . . . . No queixo a barba surge. Os seios descem
. . . . . . . . . . . . . . . . . Assimetricamente orientados.


. . . . . . . . . . . . . . . . . Nos braços delicados crescem músculos,
. . . . . . . . . . . . . . . . . No lugar da peruca a calva aponta,
. . . . . . . . . . . . . . . . . Todo o tórax se alarga, estranha afronta
. . . . . . . . . . . . . . . . . Aos ombros ontem frágeis e minúsculos.


. . . . . . . . . . . . . . . . . E, enfim cientes do tempo e seus esbulhos,
. . . . . . . . . . . . . . . . . Dúbios, nas filas dos supermercados,
. . . . . . . . . . . . . . . . . Ei-los que vão, duas vezes destronados,
. . . . . . . . . . . . . . . . . Rumo ao fim, femininamente hercúleos.

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. . . . . . . . . . . . . . . . . GLÓRIA
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. . . . . . . . . . . . . . . . . Bêbado às duas da manhã,
. . . . . . . . . . . . . . . . . Parei na loja de ovos e aves.
. . . . . . . . . . . . . . . . . Subi na grade e, em grande afã,
. . . . . . . . . . . . . . . . . Cacarejei, de ecoar nas traves.

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Os galos todos acordaram
. . . . . . . . . . . . . . . . . Cheios de brio e, num só coro,
. . . . . . . . . . . . . . . . . Com seu cacarejo enfrentaram
. . . . . . . . . . . . . . . . . O meu, mais forte, mais sonoro.


. . . . . . . . . . . . . . . . . Saltavam todas as galinhas.
. . . . . . . . . . . . . . . . . Penas voavam loja afora.
. . . . . . . . . . . . . . . . . Ligavam luzes nas vizinhas
. . . . . . . . . . . . . . . . . Casas. Parti. Criara a aurora.

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(
Os poemas I.M.L. e Glória são inéditos em livro. Ocaso integra Desaparições, obra recém-lançada de Alexei. Os três foram postados com mais oito poemas do autor no blog do artista plástico Hélio Jesuíno. De lá os surrupiei, junto com as ilustrações frações de um painel que Jesuíno fez para a abertura da postagem. Veja aqui.)

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sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Nuas, peladas ou sem roupa no Carnaval

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Previsões sobre a folia dos . . . . .

voieurs no carnaval pela TV . . . .

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. . . . . ... . Elza Magna

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Para você que vai passar o carnaval em casa, rebolando só os olhos atrás de imagens picantes pela TV, posso prever que o Desfile das Escolas de Samba deste ano lhe reserva as seguintes surpresas libidinosas:

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­ – Mais de uma centena de modelos, atrizes, ex-participantes do BBB e anônimas – estas em busca de uma brechinha (não a mesma que você) para garantir pelo menos seus 15 minutos de fama – vão aparecer com fantasias absolutamente imperceptíveis.

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– A TV mostrará em close milhares de peitos, bundas e até mesmo algumas nesgas de xoxotas especialmente para vocês, tele-punheteiros.

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– Aquela mulata de cabelos oxigenados, uma super peituda que quase levou vocês à loucura no carnaval de 2009, este ano vai aparecer mais turbinada ainda. E com os tapa-bicos bem menores!

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– Algumas peladas contumazes aparecerão com fantasias muito discretas. Mas não desgrudem os olhos da telinha, voieurs, porque a qualquer momento uma alça de sutiã ou mesmo um elástico de calcinha vai arrebentar, “acidentalmente”, e mostrar tudo!

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– E a melhor surpresa: além da Ângela Bismarck, mais três gostosonas aparecerão na Sapucaí completamente peladas. Ou quase, pois uma delas, mais recatada, desfilará de sandálias de dedo.

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Olho na TV, mãos à “obra” e bom carnaval, taradões de todo o mundo!

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LIVROS QUE DEUS ME LIVRE! - II

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Se você não tem saco para ler coisa
pesada, não perca esses lançamentos!




A insustentável inteligência emocional da menina que roubava empinadores listrados do alquimista de Sofia Da Vinci - Versão em português de 27 best sellers admiravelmente embaralhados e condensados num livro de 44 páginas pelo onisciente Prof. Edson Rocha Braga. Ideal para iniciantes em literatura descartável.


O tal do desodorante nasal -
Teophanio Lambroso analisa o lançamento no mercado do primeiro desodorante multiuso – contra cecê, chulé, mau-hálito, peido etc., seus e alheios. "Passou nas narinas, adeus catingas!", diz o slogan do produto. O autor testou exaustivamente a novidade em suas três fragrâncias: rosa, pimenta e mulher. Diz que a primeira é enjoativa, a segunda só baiano agüenta, e a terceira é ótima, pois tudo fica com cheiro de mulher. “Mas é um tanto estranho – assinala – ir para a cama com minhas namoradas sentindo nelas o mesmo cheiro da minha avó."


Como transformar esterco de burro em ouro de tolo -
Mais um compêndio de alquimia caseira da barraqueira Paula Ramster, a maga diarista que fez patê do marido galinha durante peregrinação a Santiago do Chile, de helicóptero, a fim de entrevistar o poeta Pablo Neruda, que se recusou a recebê-la em seu mausoléu para a entrevista.


Amor sem fronteiras - Coletânea de sublimes casos de amor estudados pela amoróloga Anga Mazle, como o de um apaixonado e harmonioso triângulo formado por uma porca-espinho heterossexual, uma ostra sapatão e um mandacaru misógino.

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quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Shakespeare em drágeas de papel

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Mais um trecho da autobigrafia
daquele cara que nunca nasceu



Já postamos duas vezes aqui no blog trechos da Autobiografia de um que nunca nasceu, de Fiophélio Nonato. O trecho de hoje faz parte do primeiro dos três anexos do livro, e é o único que não tem título definido. Ou pelo menos assim me parece, pois há um título datilografado "Sementes híbridas de frutos estéreis" e riscado; e um segundo, escrito a lápis "Receitas para vencer na vida sem precisar nascer" e (mal) apagado com borracha. Fora isso, foi carimbado no alto da página o seguinte: "Arquivado e foda-se!" Mas esse mesmo carimbo aparece também em diversos capítulos do livro que têm título.

O texto que selecionamos é um dos poucos com mais de 15 linhas dentre os 23 que compõem o Anexo I. Vamos a ele:



A primeira vez que li Shakespeare eu mal completara meu primeiro ano de não-nascido. E ainda era analfabeto da sola dos pés para cima. Em português – porque, em espanhol, já começara a ler por influência dos meus sapatinhos de tricô Naique, e com um irretocável sotaque paraguaio. O inglês seiscentista, porém, eu o aprendi quase instantaneamente, desde que Hamlet começou a ser-me inoculado por Floris Bregh, uma bela morena que mora no Acre – numa aldeota onde, segundo ela mesma me contara por sinais de fumaça produzida por uma das queimadas que quase diariamente arrasam quarteirões inteiros de mata amazônica, "no verão o inferno é verde e o sol arde cada dia mais forte tentando, por enquanto em vão, amarelar tudo".

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Do 11º andar do jequitibá em que residia, até então preservado do fogo dos posseiros fazedores de pastos, Floris, como eu dizia, me inoculava Hamlet lançando doses redondas e certeiras de páginas da tragédia shakespeariana no quintal do meu semi-desabado casarão em Vila Valqueire, e justo na boca do bebê aqui – que por ali engatinhava à cata de caracóis e insetos para comer. Mas as bolinhas de Hamlet eram mais gostosas, e me chegavam como um raio ao coração e ao cérebro, órgãos que em nós, não-nascidos, são um só, aconchegado entre o estômago e o fígado, e nos proporciona uma sensação muito agradável de fome saciada quando ingerimos um texto que valha a pena, seja através da leitura convencional, seja muito mais através de petardos de páginas bem emboladinhas recebidos, goela abaixo, de uma bela mulher. Se você, leitor, por acaso não conhece Floris, nem outra mulher bonita com a sua mira miraculosa, experimente comer por si mesmo algum texto curto shakespeariano – um soneto, digamos, que não será refeição pesada, talvez até mais leve que um canapé light feito na hora por uma quituteira de bons bofes e más intenções sensuais. Caso ainda assim o bardo inglês não lhe passe pela garganta, intragável tanto quanto o são para muita gente a ostra (mesmo sem a concha), o caviar (mesmo sem ter de pagá-lo) e a buchada de bode (mesmo com o sal de fruta de logo após), não o coma: beba-o, que ele também sabe ser líquido, e denso e aveludado como um bom licor francês ou italiano; ou fume-o, e poderá desfrutar sabor e aroma superiores aos dos melhores charutos cubanos; ou aperte unzinho, se possível em seda bíblia subtraída, por exemplo sugestivo, a ‘A comédia dos erros’, e dê doisinhos básicos; ou então bata meio soneto numa carreira fina e curta e cafungue-o a plenos pulmões.

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Se nenhuma dessas práticas condenadas pela sociedade o atrai, nem mesmo a mais perigosa delas – a boa leitura! –, esqueça o cara e deixe-se chegar até ele por acaso, talvez tangenciando papos bêbados de balcão num boteco sórdido; talvez grampeando no ônibus a ladainha tricotada pelas duas velhinhas do banco da frente; talvez convidando a primeira bela (ou belo) que lhe sorrir no elevador a seguir direto à cobertura do prédio para caçar estrelas numa noite de céu nublado; talvez até mesmo em casa, postando-se diante da TV sintonizada num programa de auditório, para, armado de um naipe de canetas hidrocor, decalcar em traços rápidos sobre o monitor todas as caretas e trejeitos do apresentador, até que da imagem transmitida só reste algumas centenas de fímbrias luminosas a animar o emaranhado de riscos coloridos que você a ela superpôs, compondo uma espécie de obra impressionista em surreal mutação constante. Enfim, permita-se encontrar William Shakespeare – ou ser por ele encontrado – em qualquer lugar em que lhe der na telha estar: exceto talvez num teatro, e não com certeza no palco – onde o velho Bill, em sua grandeza plena, nunca pisou nem jamais pisará, fosse com seus próprios pés, fosse ou seja com os pés de uma companhia teatral, inclusive e principalmente as shakespearianas.

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quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Cêu xurrasco quaze gratuíto!

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Não perda eça xanse, pessuau!!!


PROMOSSÃO EXPETACULÁ
POR FALÊNSIA SEM VORTA!

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Aucatra, xuleta, piscanha, largato, xam, assém, múscolu, perniu, salcixão, drobadinha (buxo), cocha e aza de frangu...

Iço tudo a presso cum 70% de dez conto!!!


Inda aleva de grassa, corassão e figo de galinha mais uns oço pros caxorro!
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Ce apreça que cortaro a lus e as carne já tá inté xeirando mau!!!

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terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Caco desbunda ator de Picasso

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Com a arte maior não se brinca
nem quando a bunda é ridícula!


NOVA IORQUE - Durante apresentação teatral no Metropolitan Museum of Art, uma expectadora trapalhona tropeçou na própria língua e meteu um caco cortante que deixou ainda mais desbundado O Ator (imagem), de Pablo Picasso.

O Museu novaiorquino não divulgou a identidade da mulher, mas socorreu imediatamente O Ator, que deverá passar por uma cirurgia plástica a fim de reconstituir seus parcos dotes traseiros.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Ora, Pipocas!

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Para aumentar a minha coleção de
Braga de Cachoeiro de Itapemirim



. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Marília Braga



Ao chegar na pequena sala de espera do médico, sentei-me diante de duas velhinhas que conversavam animadamente. Velhas amigas, uma acompanha a outra, pensei.


Cumprimentei-as educadamente:


– Boa tarde!


– Boa tarde! – cada uma respondeu.


E continuaram conversando, mas me olhavam de vez em quando com a curiosidade com que as velhinhas olham para outras pessoas em consultórios médicos: "Qual será a doença dela? Alguma dor ou mal estar que eu ainda não experimentei?”


Peguei uma revista e comecei a folheá-la.


– O doutor hoje está muito atrasado – disse a mais falante, puxando conversa.


– Ah, é? As senhoras estão esperando há muito tempo?


– Sim, sim. Estamos aqui há... pipoca!


Será que ela disse pipoca? – pensei, atribuindo a dúvida a alguma falha auditiva.


– Imagine só – continuou ela –, no mês passado quando estive aqui, eu estava sentindo uma... pipoca... uma dor do lado esquerdo, e o doutor achou que podia ser... pipoca!


Agora não havia dúvida, ouvi bem direitinho. Com toda certeza ela havia dito pipoca. Hesitei alguns segundos, mas finalmente não resisti e perguntei:


– Me desculpe, a senhora disse... pipoca?


Antes que ela respondesse, sua amiga me informou:


– Não ligue, não. Ela teve um AVC um tempo atrás, e quando não se lembra de alguma palavra diz... pipoca.


Terminada a minha consulta, aproveitei que havia uma farmácia em frente e entrei para comprar um pote de... pipoca... como é mesmo o nome daquele creme para... pipoca... Ih, essa coisa é contagiosa, ora, pipocas!