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Ao companheiro Horacio Companheiro
Era uma vez, muito tempo atrás, dois meninos que viviam em lados aparentemente opostos: Luisinho engraxava sapatos, com a graxa que a família de Zezinho fabricava. Um dia, calhou de Zezinho ter seus sapatos engraxados justamente por Luisinho. E Zezinho logo percebeu que Luisinho conversava muito melhor do que engraxava sapatos.
– Onde você estuda, Luizinho?
– Estudar? Não tenho tempo pra isso, não. E você, Zezinho?
– Também larguei os estudos faz tempo. Por falta de tempo também.
– Você engraxa onde?
– Em lugar nenhum. Nunca engraxei sapatos.
– Nunca? E como um menino pode levar a vida sem engraxar sapatos?
– Às custas de vender a graxa que os meninos que engraxam sapatos usam.
– Puxa, Zezinho, então nós somos dois diferentes praticamente iguais!
– E não é que é isso mesmo, Luizinho? Bem que eu percebi que você falava muito melhor do que engraxava sapatos.
Serviço terminado, Luizinho guardou a graxa e a escova na caixa de engraxate, pendurou-a nas costas e saiu caminhando e encompridando a conversa, orgulhoso e envaidecido do brilho dos sapatos de Zezinho, também orgulhoso e envaidecido de merecer a conversa brilhante que estava tendo com Luisinho. Conversa vai, conversa vem, acabaram chegando a uma ladeira que levava a um palácio no qual parecia que dois meninos como eles podiam fazer muita coisa boa juntos, desde que descobrissem, segundo Zezinho, a palavra mágica que abria as portas do palácio.
– Que palavra será essa, companheiro?
– Eureka!
– Eureka?
– Não, Zezinho. Companheiro!
– Companheiro, companheiro?
– Sim. Você descobriu a palavra mágica: companheiro, companheiro!... Veja.
As portas do palácio acabavam de se abrir.
E eles trataram de subir a ladeira, juntos, e entrar no palácio. Lá dentro, fizeram muita coisa boa juntos durante vários anos. Não todas que sonhavam fazer, mas muita, muita coisa boa. Dentre elas, outra descoberta importante: a de que a palavra mágica abria muito mais do que as portas daquele palácio, porque era ela a chave-mestra para abrir as portas de todos os palácios do mundo.
Daqui a pouco, os dois meninos vão deixar o palácio. Descendo a ladeira juntos, deseja Luisinho. Juntos, sim, garante Zezinho, mesmo que um deles não possa fazê-lo de corpo presente. Porque não há palavra nesta vida, nem em outras que porventura existam, companheiro leitor, que possa fechar as portas que ligam dois companheiros de verdade.
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A história de Luisinho e Zezinho me foi contada pelos olhos desses senhores que aparecem na foto acima. Mas a palavra mágica, eu já a conhecia há mais de 30 anos. Há uns 25, quando o seu poder mágico era reconhecido e respeitado por quase todos os brasileiros, escrevi o texto que está no boxe abaixo. Uma sátira ao seu uso generalizado nos meios sindicais e também entre os integrantes do jovem Partido dos Trabalhadores. Hoje, republico esse texto em homenagem ao companheirismo de Luisinho e Zezinho.
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