sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Dógui, o cão da globalização

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Meu velho amigo e parceirão de boemia e criações mirabolantes Hélio Jesuíno (só não digo que você me paga, seu puto, porque não pretendo morrer para cobrar-lhe!) criou, desenhou e aplicou sobre as imagens filmadas de  “Dógui, o cão da globalização”, curta de Júlia Martins, o protagonista e demais animais e pessoas que participam da trama. "Uma trabalheira do cão, mas que valeu a pena", como ele disse. Se valeu! O filme é uma delícia, com cenas e seqüências antológicas, como a perseguição noturna do cão a um gato pelas ruas desertas e sombrias. É do Jesuíno também a voz do cachorro velho que cantarola "Pobres moços", de Lupicínio Rodrigues.

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sábado, 17 de dezembro de 2011

A pulcra bugra



Pauta para um papo com Heleno Álvarez e Paulinho Saturnino    .

.  .  .  ..  .  .  Campos de Carvalho e Ionesco visitam Botero, doente
 
Walter – Afinal, aonde estamos indo?
Eugène – Em frente, eu acho. É o que sugere o caminho, mais estreito a cada passo.
Fernando – Pois eu vejo tudo bem largo.
Walter – Então, pare de rodopiar.
Fernando – Não estou rodopiando!
Walter – Comece.
Eugène – Sinto dizer, Fernando. Está tudo largo porque você está voltando.
Fernando – Como, se estamos seguindo na mesma direção?
Eugène – Quem disse? Eu nunca sigo na mesma direção de outra pessoa.
Walter – Não sigo na mesma direção nem de mim mesmo.
Eugène – A minha sombra, eu tento seguir. Às vezes, consigo.
Walter – Quer trocar? A minha não se dá comigo. Se o sol está à frente, ela também está. Se o sol está atrás, ela pára, senta-se e só se dispõe a prosseguir quando ele nos alcança.
Eugène – Sombras são seres problemáticos. Têm dificuldade em aceitar que todos os outros seres, vivos ou inanimados, são meras projeções delas mesmas.
Fernando – A mulher mais gorda que já vi foi também, por alguns minutos, a mais linda e desejável. Eu já estava me apaixonando quando notei, horrorizado, que sua sombra era esquálida... só pele e osso!
Walter – Meu avô passou 22 anos anos sem sair da cama porque esquecera a sombra na casa da amante e não queria que minha avó descobrisse.
Fernando – E por que saiu?
Walter – Ciúmes.
Eugène – Epa! O que sua avó aprontou?
Walter – Morreu.
Fernando – Seu avô teve ciúmes da falecida?
Eugène – As pessoas morrem, mas boa parte do que sentimos por elas sobrevive.
Walter – Certos sentimentos que temos pelos mortos sobrevivem até a nós mesmos!
Fernando Quem morrer verá!
Eugène – Isso só vale pra você, Fernando. Walter e eu já vemos há tempos o que não pode ser visto pelos vivos.
Walter – Me tira dessa. Só morre quem nasce por acaso. Eu, que nasci por vontade própria, viverei pela eternidade. De castigo, para pagar por essa escolha estúpida.
Fernando – Olhem, vem vindo um grupo de pessoas lá longe!
Walter – Não são pessoas, são sombras.
Eugène – Como sabe? A essa distância, podem ser também pessoas, árvores balançando ao vento...
Fernando – Rinocerontes!
Walter – Nada disso. Conheço bem essas sombras... essas sete sombras!
Eugène – Será que alguma delas é a do seu avô?
Walter – Todas. .
Fernando – Todas?!
Eugène – Pra quem não tinha nem uma, seu avô prosperou um bocado...
Fernando – Ele se dá bem com elas?
Walter – Desde que morreu, sim.
Fernando – Se ele morreu, o que essas sombras fazem agora?
Eugène –  Não estariam seguindo algum sentimento dele que sobreviveu?
Walter – Na mosca, Eugène! As sombras seguem o ciúme do meu avô. O tal ciúme que ele sentiu quando minha avó morreu.
Fernando – E como você sabe disso?
Walter – Eu estava no quarto do casal, conversando com meu avô sem sombra, quando as sombras entraram para avisar que minha avó havia acabado de morrer na cozinha. Choravam muito, todas as sete
Eugène – Sete sombras. De sete homens...
Walter – Sim. Os sete homens com que minha avó se envolveu durante o tempo em que meu avô se isolou dela e do mundo para encobrir sua falta de sombra.
Fernando – Bem, se as sete sombras seguem o ciúme do seu avô, presumo que os sete homens já tenham morrido, certo?
Walter – Errado. Estão todos vivinhos da silva.
Eugène – Mas sem suas sombras, seqüestradas pelo avô ciumento.´
Fernando – Assombroso!
Walter – Sem sombra de dúvida!

,   .  . Isso foi apenas um aperitivo de “Os Rinocerontes - 2ª Manada”, que só poderei postar na próxima 2ª feira.
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domingo, 11 de dezembro de 2011

Os Rinocerontes - Manada 1

 Ser vivo fosse, Eugène Ionesco teria completado 102 anos em 26 de novembro último. Em comemoração à data, convidamos desenhistas, pintores, chargistas, fotógrafos, bicões como eu, um ceramista e até uma estilista, para explorarem aqui, através de imagens, o tema rinoceronte, “personagem” principal da obra mais popular do teatrólogo franco-romeno. Ionesco dizia que seu teatro não era absurdo: era insólito. E eu digo que uma postagem coletiva atrasar tanto assim é um absurdo – mas nada insólito, em se tratando deste que vos digita...

A idéia de entremear as imagens de rinocerontes com citações de “O rinoceronte” não funcionou. O autor não é um frasista em suas peças, e nessa, especificamente, não há como selecionar mais de cinco ou seis trechos curtos (menos de 30 linhas) com sentido “fechado”. Cheguei a marcar oito, mas desisti quando somei o total de linhas, que já beirava 260. Ou seja, é certo que a postagem teria, considerando que são 24 imagens, no mínimo 750 linhas. Então “selecionei” uns textos meus mesmo e salpiquei-os pela postagem. Boa saída, não?  No total, meus textos vão ocupar, no máximo – no máximo! ­–, 2.300 linhas.

Ao alto, Ionesco, na visão do caricaturista Amorim. (O original chegou-me em perfeito estado. O furo é gracinha do Bush da Xuxa, um rinoceronte safado, de bígamo para mais, amasiado que é com a balofa Amoringa, lhama do Amorim, e com a escultural Bianca, minha lagartixa.)
  

Rinoceronte ao porre-do-sol 

Hélio Jesuíno . .   . .  .

Os que acompanham o Desinformação Seletiva estão carecas de curtir o trabalho do Jesuíno.  Bom, eu não sei se isso é bem verdade: primeiro, porque não é muita gente que presta atenção em artistas cuja produção não atende ao perfil desejado e oferecido pelos mercadores de arte e pelos donos da grande mídia; segundo, porque, se as pessoas ficassem mesmo carecas de curtir seja lá o que for, só os infelizes radicais ainda teriam cabelos. Pelo sim, pelo não, ainda bem que a calvície vem me atacando à toda, avassaladora feito um rinoceronte! 


Mirei no Miró, .certei n’urinó
Raíssa Medeiros  . . . . . .. ... . . . .
No tão esperado dia em que finalmente veria uma montagem de “O rinoceronte”, Raíssa acabou deixando o teatro correndo, assim que o áudio, já na primeira cena, disparou os terríveis bramidos do rinoceronte. Ela não dormiu naquela noite nem em muitas outras mais, sempre que lembrava que aquele bramido era, exatamente, a voz do seu professor de química!
Hoje está tudo bem com a nossa amiga. Graças ao próprio professoronte, que parou de lecionar para trabalhar num safari club de La Paz como dublador de rinocerontes mudos. Já a nova professora de química, segundo Raíssa, “até que lembra, no físico, um rinoceronte... mas a voz, graças a Deus, é de arara”.  


Psicofotoceronte
Cla Leal . . . . . . . . . . . . .

A Cla é clara, claríssima como o seu nome, Clarissa. Ilumina tudo e a todos: por fora, fotografando, e por dentro, como psicóloga – e vice-versa. Foi ela quem primeiro avistou a manada de rinocerontes psicóticos que arruaça o oco da minha cabeça. Por sorte, estava sem a sua câmera, essa filha (e avó!) da também queridíssima Cris Leal. Se alguma foto disso caísse em mãos erradas, seria um duplo desastre: eu acabaria preso, por manter animais silvestres em cativeiro, e os pobres bichinhos, indo para um  manicômio.
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Tímida bem sem-vergonha

 Dade Amorim . . . . . . . . . . . . . .

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .  . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .  A Dade não escreve poema
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .  . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .  de forma preconcebida.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .  . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .  Verso seu é clara gema
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .  . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .   que a alma garimpa e lapida:
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .  . . . . .  . . . . . . . . . . . . . . . . . .  concebe o peixe que eu pesco!

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .  . . . . .  . . . . . . . . . . . . . . . . . .  Se quero encontrar Ionesco,
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .  . . . . .  . . . . . . . . . . . . . . . . . .  é pedir à Dade e o tenho.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .  . . . . .  . . . . . . . . . . . . . . . . . .  E mais a fera desponte
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .  . . . . .  . . . . . . . . . . . . . . . . . .  mansinha no seu desenho,
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .  . . . . .  . . . . . . . . . . . . . . . . . .  mais me faz rinoceronte.


Bicho Pop

Endiórrou . . ..

Antonio Costa Ocram, o Endiórrou, é um dos mais populares grafiteiros de Primeiro, bairro de Meu Pirão, que é distrito do município de Farinha Pouca, na Baixada Fluminense. Pintar rinocerontes pelos muros, paredes e monumentos é sua marca registrada.
– Comecei pintando elefantes, mas passei pros rinocerontes pra economizar. Gastava três tubos de tinta spray só nas orelhas” – explica o artista.
Do grafite, Endi passou para outras formas de expressão: desenho, pintura, fotografia, escultura, dança, teatro, cinema... até chegar ao assalto a mão armada, graças ao qual conseguiu vaga num ótimo presídio, onde põde começar uma nova fase no grafite, pintando só rinocerontes enjaulados ou de focinheira. Cumprida a pena, voltou a sujar as ruas a todo vapor. Resolveu esculpir um rinoceronte de cinco metros de altura na praia de Ramos, usando apenas fita crepe e o lixo que os banhistas largam na areia, no mar e no Piscinão. Infelizmente, o lixo só foi suficiente para fazer pouco mais de 2/3 do rinocerontão. Mas, graças às crianças que o ajudaram a catar a porcaria toda na praia, ele pôde também recolher sacos de lixo na porta das casas. Em poucas horas, havia material suficiente pra fazer uma manada de rinocerontes gigantes. O trabalho, porém, foi interrompido pela polícia, que recebera centenas de queixas de moradores de Ramos, incomodados com o cheiro do lixo e com o comparecimento maciço dos urubus (as aves, não os torcedores do Flamengo).
– E lá fui eu em cana de novo! Quando sair, meu camarada, vou fazer rinoceronte de lixo é na Lagoa Rodrigo de Freitas. Lá, sim, até aquele fedor de peixe podre é chique!  
. .. . ..Obs: Esse cara aí não é amigo meu, não, hem! Só entrou nessa postagem por ter sido recomendado pelo poeta e artista plástico Marcantonio.



RinoSER
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 Tonho . . . . . . . . . . .

Os rinocerontes já estão no poder há muito tempo. Disso, poucos não-rinocerontes sabem, porque aqueles seres maquiavélicos agem na camuflagem dos dias nublados por nuvens paquidérmicas. Para assumirem de fato – e de “direito”! – as rédeas da vida no planeta, só falta uma boa logomarca. Isto é, faltava, porque o Tonho acaba de entregar a rapadura. Fazer o quê? Artista, pra sobreviver, tem como qualquer um de pagar as prestações da morte. E vida que segue – não se sabe se no caminho do rinoceronte que nos vem pela frente, pela direita, pela esquerda, pelas costas ou, até mesmo, por baixo ou por cima.
 
O pesadelo de Teseu
(ex-“O sonho de Alice”)

  Vera Curi . . . .  . . . . . . . . .

A Vera me avisou que não poderia participar desta postagem. Três dias depois, recebo a imagem acima por e-mail. De um tal Marco Antonio Delfino. Disse ser procurador da Vera e que me ligaria para se explicar melhor. E ligou.
– Esse quadro, se não me engano, fez parte de uma exposição, senhor Delfino.
– Delfino, não, por favor. Fininho. Doutor Fininho... O quadro foi a leilão, sendo  arrematado pela minha pessoa.
– O título não era “O sonho de Alice”?
– Resolvi mudar depois que troquei o coelho pelo rinoceronte.
– E a Vera concordou em pintar a troca?
– Não foi ela. Foi o pintor de parede aqui do prédio. Vinte pratas. À vista, cash.  Só pro cara botar os chifres e aparar as orelhas do coelho.
– E por que Teseu? Ele tem tão pouco a ver com rinoceronte quanto a personagem de Lewis Carroll.
– Teve um lance lá dele com um bicho de chifre, não teve?
– Bem, o Minotauro tinha cabeça de boi, mas o corpo era de homem.
– Então? O quadro tem a cabeça do rinoceronte, mas o corpo é de homem.
– Faz sentido. Absurdamente, mas faz.
– Parece que rola algo entre eles, o senhor não acha? Uma, digamos... zootecnia.
– Zoofilia.
– Sei lá. Não manjo de sexo com bicho. Meu negócio é mulher, só mulher. Se bem que na infância...
–  Troquinha... coisa normal entre crianças.
– Troquinha, o quê! Tive foi um romance tórrido. Com Toinha, leitoa da minha avó.
– Sério?!
– Seríssimo. Eu queria até casar!
– Não casou por quê?
– Acabou, perto do Natal seguinte. Mataram Toinha para as festas.
– Coisa mais triste, doutor Fininho...
– Que nada, amigo. Eu só guardo as lembranças boas. Ah, a Toinha, minha doce e meiga Toinha!...  Deu o melhor torresmo que já comi na vida!


 Self
Eleonora Marino Duarte . . . .. ..

Na biografia de Eleonora, destacam-se:
1 . As 274 Barbies que Eleô, a gêmea boa, juntou dos 3 aos 38 anos Assim como a coleção inteira assada numa fogueira de São João por Nôra, a gêmea má.
2 .  Os “tudo bem com você, meu anjo?”, “se precisar de mim, é só falar, hem“, “tão fofinhos, os seus filhos”... de Eleô.  Assim como o “não fode”, de Nôra.
4 . As entradas suaves e exóticas que Eleô prepara e serve para os que a visitam e ficam para o jantar. Assim como o prato principal de carne – sempre suculenta e saborosa – que Nôra afana da cozinha e come todo, com as mãos, isolada no quintal, na presença apenas do cãozinho de Eleô, que baba de desejo mas não ganha nem sombra de pelanca.
5 . Os grupos de miseráveis, doentes físicos, deprimidos, carentes afetivos, solitários, aleijados... que  recebem o bálsamo de um gesto ou palavra de Eleô. Assim como a multidão de gente de todo tipo que quer ganhar um autógrafo, uma migalha de amor ou mesmo ser xingada ou levar uns bons pescoções de Nôra.
6 . Todos, sem exceção, têm profunda simpatia e admiração por Eleô. Assim como todos, inclusive grandes celebridades e deuses de todo tamanho, querem ser como Nôra e, para saber o que ela lhes destina, fazem fila à porta em que talvez, quem sabe um dia, serão atendidos – a dos fundos!
. .. . ..Obs: Na “moldura” da obra usei o céu de um desenho meu mesmo e o exuberante par de tetas surrupiado do sutiã do Paulinho Saturnino.
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My World Fashion Week

ou Quindim Antropofágico
ou Lobato Engole Ionesco (e Vice-Versa) sob a Mira de Crepax
 Lilian Alves . . .. .. . . . . .. . . .. ..

A estilista paulista Lilian Alves não costuma criar moda para paquidermes. Só aceitou participar desta postagem porque dia desses, por feliz coincidência, aventurou-se nesse promissor segmento fashion ao lançar uma coleção encomendada para os elefantes gigantes do Zôo de Itu. O sucesso foi tal que todos os modelos apresentados já receberam encomendas de senhoras abastadas – de grana e de banha. Sucesso igual, só o desfile que Lilian realizou no Minhocão, em Sampa, com gente do povo fantasiada de inseto. Milhares de paulistanos confeccionaram (sob orientação da estilista) seus próprios besouros, abelhas, formigas, marimbondos, baratas, piolhos, larvas de mosquito... e desfilaram em enxame com muita empolgação – teve até ferroadas no público e no policiamento! A nota desagradável foi a barração do senhor Paulo Maluf, que queria porque queria desfilar fantasiado de camundongo Mickey. Chiou um bocado o honrado político: “Ôrra, meu, se rato não é inseto, que outro bicho é que é?... Minhoca? Vírus?? Lula??? Tucano????”


Café Ionesco  . .

Variz da Meiga . . .. .. . . . . . .  . ..  . . . .. . . .. .... ..

Variz da Meiga é marido do Mariz da Veiga. Ou, talvez, vice-versa. Só sei que ambos são pais – ou mães – do meu amigo e vizinho JP Veiga, prova viva de que a procriação nada tem a ver com  sexo. “Nascemos de nós mesmos “ – afirma o escritor e ilustrador de livros infantis. – “Por isso é que eu só me masturbo de camisinha. Vou lá correr o risco de me engravidar? Se já é duro eu ter de aturar um, que dirá aturar vários de mim!”
  

O terror dos mares cariocas

 Racheldson Rocha Braga . . . ..

Foi o próprio desenhista (e também naturalista e estropiciólogo) Racheldson Rocha Braga quem descobriu, no outono de 1967, enquanto pesquisava no litoral fluminense um surto de TPM entre as gaivotas, a existência do Ilhionescus Cagarrum Ipanemensi. Naquela época, o imponente rinoceronte carioca fazia ponto em frente à Praia Vermelha, mas os generais que então comandavam o país invocaram com o sobrenome daí decorrente: Vermelhensi. Como o paquiderme logo chegaria a Copacabana, a alternativa seria Copacabanensi. Aí foi um sargento que levantou a mão para alertar: “Algum gaiato vai logo fazer piada com o Forte de Copacabana, senhor!”  E pronto, o bicho virou ipanemense, embora só tenha chegando ao badalado Posto Nove, onde mora até hoje, no verão de  78. Mas ninguém reparou nele, a galera toda da praia ligadona em assuntos mais palpitantes – como o topless, a sunguinha de crochê do Gabeira, a compra do mal afamado Bar das Pombas pelo Tuca Zamagna, etc.”
O prof. Racheldson, no entanto, considera Cagarro (como o nosso amiguinho é mais conhecido) o principal agente poluidor das praias do Rio: “ Seus gases, fartos e potentes, adentram a Baía de Guanabara e vão empestear as águas e os ares da Favela da Maré e adjacências. Sorte da gente fina da Zona Sul que o animal tem o traseiro apontado para a entrada da baía, sobrando para as praias de mar aberto somente as cerca de 670 toneladas de bosta que ele produz por dia.“
Para solucionar o problema, Rocha Braga apresenta uma sugestão que considera simples e barata: “Arrolhe-se-lhe o fiofó com artefato já existente, como a árvore natalina da Lagoa, um pilar da Ponte Rio-Niterói ou o Monumento dos Pracinhas.”
. .. . ..Obs: O prof. Racheldson acaba de ser tornar avô. Lindinha a Alice, que é os cornos do vovô –  os dois, mas principalmente o do focinho! 


Cacareco, o rinoceronte de Tróia

Tuca Zamagna

Cacareco, um simpático rinoceronte que morava no Zôo de Sampa no final da década de 1950, é o maior fenômeno eleitoral da nossa História. Jamais um candidato legalmente elegível conseguiu, só no boca a boca, sequer se aproximar de tão expressiva votação: cerca de 100 mil votos para vereador da São Paulo de 52 anos atrás! O atual sistema adotado pelo TSE não permite que se dê nome ao voto nulo, o que a meu ver cerceia um direito do eleitor e o leva, na ânsia de manifestar o seu desagrado com a qualidade dos candidatos disponíveis, a cometer equívocos como o “voto de protesto” no Tiririca. E o comediante, talvez menos alfabetizado que qualquer rinoceronte, não só ganhou uma cadeira na Câmara Federal como ainda arrastou consigo outros candidatos de seu partido, através da regra da proporcionalidade, outro dispositivo tão cocoroca quanto o do voto nulo sem direito a um batismo cristão!
Esse babado todo é que me inspirou a fazer um Cacareco oco, troiano (com capacidade de lotação interna bem superior a de um cavalo dos grandes), que propicie aos cidadãos insatisfeitos se apinharem dentro de um paquiderme que pula em cima do Congresso Nacional. Longe de mim querer sugerir um atentado às nossas torres gêmeas catatônicas, até porque o resultado de tal ato terrorista seria pífio No máximo, vitimaria um ou outro congressista que porventura aparecesse por lá na ocasião, para fazer palavras cruzadas ou folhear revista de mulher pelada sossegado. E as torres em que o Cacareco está pisando, na “foto”, nada mais são do que parte da infinidade de documentos produzidos inutilmente pela Câmara e pelo Senado. Parte, sim, pois se eu empilhasse todos os calhamaços de ótimos projetos de lei que nunca serão votados, longos processos contra integrantes corruptos das duas casas que jamais serão cassados, intermináveis relatórios de CPIs que sempre acabam em pizza... Enfim, se eu empilhasse toda essa papelada, o Cacareco estaria, no mínimo, invadindo o desenho de cima, ameaçando a soberania marítima do Cagarro do prof. Racheldson.

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Aguardem. Vem aí a Segunda Manada.!

Tem Hermé, Luiza Nogueira Maciel, Jorge Eduardo e Marcantonio.!!
Tem Lelena Bípede Falante travestida de Quadrúpede Bramante.!!!
Tem, ainda, Fernando Domingues, Jean Cristof Zamenhof e Teopha.!!!!
Sem falar num Dalí, em bronze, refeito em barro por Guilherme Toledo !!!!!
E sem sequer pensar no rino de cinco chifres, feito por desenhista anônimo, e na...
Pulcra Bugra, uma rino à Botero  “ilustrada” por um papo surreal entre Ionesco, Campos de Carvalho e Botero.!!!!!!