sábado, 25 de fevereiro de 2012

Sem cura



A olhos nus
Quando a vi de costas, nua, percebi que nada do que meus olhos haviam lhe dito até então era assim tão intenso, tão despido de romantismo hipócrita.

A gosto
A casa em chamas. Resolveu entrar e pegar a gaiola do curió que vira pela janela. O passarinho era bem como ele gostava: . mal passado.

Glória em vida
Aos 60 anos, doía-lhe ser visto como velho. Aos 70, ser ignorado por todos. Aos 80, enfim a glória em vida: . ser considerado um saudoso falecido.

Sintonia
– Boa noite, sol – ela disse, em sintonia com o fuso horário do mundo da lua em que vive.

Rei
Ali era um reino? Nele havia súditos? Soube que não e não. Então comprou o terreno e nele fundou o reino onde, para sempre, foi rei só de si.

Boa fé
– Já matei 87 pessoas. De boa fé, é claro. Que culpa tenho eu se elas se aproximam do inimigo, indiferentes à minha notória má pontaria?

A mulher perfeita
Bela, culta, sensível, sexi, sem papas na língua nem tatuagens. pelo .corpo. Parecia perfeita. E era, como descobri quando a pedi em casamento e ela recusou.

Anjo brevíssimo
Sentou o braço num até sentir pena. Noutro, sentou o outro braço até morrer de pena. E voou, para onde não precisasse ter pena nem asas.

Dois coelhos
O que era pior: apanhar do marido ou aturar a mãe dele defendendo-o?  Um dia, em legítima defesa, empurrou-o janela abaixo e acertou, por acaso, a sogra, matando os dois.

Sem cura
.  . . . .  – Sabe o que mais me dói quando eles partem?
.. . . . .  – O quê, amiga?
.. . . . .  – Uma dor sem cura que só o ser amado é capaz de causar ou agravar.  

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