sexta-feira, 30 de julho de 2010

Pela rua dourada

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Venho voltando da casa de minha madrinha que acaba de falecer. Voltando da casa de minha madrinha pela rua dourada de casas antigas, trajeto que sempre fiz esses anos todos, mesmo depois que, aos 12 anos, deixei de morar com ela. Da casa de minha madrinha só me resta um tesouro: os olhos daquele garoto que morava numa das casas douradas desta rua. De minha madrinha, agora só me lembro da doçura com que me disse “é um bom menino, estudioso, de família muito trabalhadora, mas ainda é muito cedo para vocês, não é não, querida?” Cedo era, mas nem por isso apagou-se a lembrança do coração disparando todas as tantas vezes em que, indo ou vindo por esta rua, meus olhos tropeçaram nos dele, fixos em mim, iluminando-lhe o rosto emoldurado pela janela de sua casa dourada. Muito tarde para lembrar, mas não esqueço nem a tola cumplicidade da nossa timidez, seus olhos a escorrerem juntos com os meus até o chão da rua, bem ali adiante, onde ainda está a casa dourada em que ele morava. Ao passar em frente a ela, sou fisgada pelos mesmos olhos que me seguiram esses anos todos. Meu coração dispara enquanto, pela primeira vez, nossos olhos se mantêm interligados, sem escorrerem até o chão da rua. Mas os dele não me reconhecem, e os meus também não reconhecem o dono deles. Pouco importa. Venho voltando da casa de minha madrinha pela rua dourada de casas antigas, tão dourada como no tempo em que a vida morava aqui.

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Fonte da imagem:.http://daijoji.blogspot.com

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45 comentários:

Anônimo disse...

...momentos...

:)

Unknown disse...

Un blog genial además de bonito.

Muchas gracias por compartir.

Carmem Gomes disse...

Momentos dourados e inesquecíveis! Beijos... adorei!

cachos de vida disse...

Feliz fin de semana.
Un saludo.

Márcia Luz disse...

A rua não era dourada, mas os olhos... ai, me deu saudade! Você não podia fazer isso comigo, Anga...

Tita Nasc disse...

Lindo, Anga!
Me comovi lembrando de alguma coisa.. não sei bem o quê. Certos textos me causam essa sensação. Será alguma patologia?
Beijos

Anga Mazle disse...

...ficções...
...delírios...
...falta de assunto..., Ulisses!

Muchas gracias, ManGo68.

Obrigada, Carmem.

Anga Mazle disse...

Pra você também, Disancor. Um saludo

Desculpe, Marcia. Sugira um tema menos perigoso que postarei sobre ele, para me redimir... Bjs

É patologia, sim, Tita. E grave! A tal de "sensibilitite"... Bjs

Thiago Thi disse...

Belo texto, Anga.
Bjs

Aline Chaves disse...

Maravilhoso. O ritmo com que a frase inicial vai sendo repetida e fragmentada imprime uma contenção que valoriza o instante em que a emoção explode e doura, mais que a rua e as casas, todo o espaço das reminicências. Beijo

Paulo Jorge Dumaresq disse...

ReminESSÊNCIAS...
Sendo ficção ou não, belo escrito.
Menina, para bens duráveis, vida longa.
BJINS.

Anga Mazle disse...

Obrigada, Thiago.

Puxa, Aline, gostei de ver a história por esse ângulo. Obrigadíssima! Beijo

Obrigada, Paulo Jorge. Tentarei seguir à risca a sua receita. Bjins

Luis Paulo Quintela disse...

Gosto desse seu lirismo natural, expresso com sutileza, sem excessos dramáticos. Bjs

Vera Andrade disse...

Tenho algumas histórias na minha vida que se parecem com esta, Anga. Mas não sou capaz de contar nenhuma delas com essa força, nem saberia resumi-las numa só com tanta expressividade e delicadeza. Mas posso me deliciar revivendo-as através do seu talentoso texto. Obrigada.
Beijos

Maria Regina Lemos disse...

Lindo texto, Anga. Me emocionei! Bjs

Anga Mazle disse...

Valeu, Luis Paulo. Vou esfregar seu comentário na cara do Tuca e do Teopha, que vivem dizendo que sou muito romântica e melodramática! Beijos

Eu é que agradeço, Vera. E não seja tão modesta, você escreve muito bem. Beijos

Que bom, Maria Regina! Beijos

Francisco de Sousa Vieira Filho disse...

Waw! Inteso, mágico, cândido e belo! ;) Saudosista pela temática... belamente cadenciado e descrito.. ;)

Márcia Luz disse...

Ah, pode postar temas "perigosos". Reclamo, mas gosto! Beijos.

Anga Mazle disse...

Obrigada, Francisco!
É uma honra tê-lo aqui, poeta.
Vou voltar com calma ao seu blog, mas pelo pouco que li já deu para perceber o seu talento poético. Os dois sonetos mais recentes são inspirados e tecnicamente muito bem construídos. Abraços

Eu entendi, Márcia. Disse aquilo ironicamente, para provocá-la. Deu certo: você voltou aqui, o que é sempre um prazer para todos nós.
Beijos

Deco disse...

Bacana, Anga. Um belo conto com pinta de crônica. Ou será o contrário?
Bom domingo!

Anônimo disse...

Uma delícia de conto, Anga. Com o mesmo lirismo encantador do poema que você postou recentemente.
Beijos
Arlete

Úrsula Avner disse...

Olá minha cara,

Vim conhecer seu espaço virtual e agradecer a visita e interesse em seguir meu trabalho com a poesia. Seja sempre bem vinda aos meus espaços poéticos. Bj,

Úrsula

Patrícia Gonçalves disse...

Anga, texto muito bonito, emociona!

bjs

ailton martins disse...

Sensibilizador documentário "Nos Olhos da Esperança". Link: http://goo.gl/b/qnZh - É verdade, justiça tardia é injustiça!

O Neto do Herculano disse...

Talvez a vida não tenha se mudado.

tempus fugit à pressa disse...

Ma tulen tagasi oma ristiema maja mööda tänavat kuldne vana maja, nagu kuldne aeg, mil elu oli siia elama.
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tempus fugit à pressa disse...

sursa imagine:.http://daijoji.blogspot.com

Nine disse...

Putz!!!
Eu arrepiei aqui.
Texto muito bem escrito, e cheio de sentimentos.
Adorei os regressos e voltas no tempo!!!
perfeito.
Obrigada pela viista no meu blog.
Abraço.

Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Jeferson Cardoso disse...

Anga, muito lindo o ambiente das casas douradas. Muito bom o seu dar de ombros para o presente, pois trás em si as ruas e casas douradas do passado. Você é mesmo muito rica. Parabéns.

Abraço do Jefhcardoso

Sayonara Melo disse...

Texto lindo, sensível <3 Adorável!

Anga Mazle disse...

Pode ser um conto, pode ser uma crônica sobre fatos fictícios. Você decide, Deco. Boa semana. Beijos

Obrigada, Arlete. Beijos

Esteja em casa, Úrsula. Voltarei aos seus espaços, para apreciar poemas. Beijos

Obrigada, Patrícia. Ótimo saber que você se emocionou. Beijos

Acredito que a vida nunca pára num canto, num tempo. Se parasse, não haveria por que se fazer poema, caro Por que você faz poema? Beijos

Anga Mazle disse...

Bem-vindo, DeusSemAteusAdeus! Se quiser, fique à vontade para escrever seus comentários em português. Temos dificuldade de ler em estoniano, mesmo recorrendo à tradução on line.

Seu segundo comentário, em romeno, pude ler, mas o entendi menos ainda. Ou seja, esqueça tudo o que eu disse no parágrafo anterior e escreva em estoniano mesmo. Kisses, pupici e beijos (ou Küsse ou ciuman ou Համբույր ou נשיקות ou 吻...)

Nossa, que maravilha, Nine. Fico muito envaidecida com tudo que você diz. Eu é que agradeço a oportunidade de conhecer seu blog e você. Beijos

Obrigada, Jefh. Quanto ao dar de ombros da personagem (e não meu) na verdade não é para o presente, mas para o passado, que ela nem ninguém pode mudar ou a ele ficar preso. Mas isso é o meu entendimento, nada impede que cada um tenha a sua leitura. Beijos

Mendonça disse...

Belíssimo texto, menina! Uma pérola... dourada. Uma breve e comovente viagem ao passado, sem saudosismo ou pieguice.

Ira Buscacio disse...

Anga,

Rua dourada, anos dourados!
Muito Bom.
Saudade sem dor, leve.
Vou voltar.
bj

Cla Leal disse...

Lindo, Tutuca... texto e imagem...
adorei!!
Ah, a foto era mesmo da Maíra com o Xamã... acertou em cheio!!
beijinhos

Unknown disse...

Oi! Obrigada porque pasou por meu blog!! O seu é muito bom!!! Gostei muito dele!!! :) Vou seguir vocé ;) rs rs rs.
Gostei muito da historia tambem :)
Bjus!!!
(Qué bom que vocé é do Río!!! vou ir um día pra lá! Muito bonita cidade!)

Anga Mazle disse...

Obrigada, Virgínia Allan querida. Desculpe ter pulado o seu comentário na minha resposta anterior. É que só depois de postar a resposta encontrei o comentário na moderação. Saiba que tem um sabor muito especial ouvir essas palavras vindas de uma grande, AMAZÔNICA escritora!
Beijos

Valeu, fiel leitor e amigo Mendonça!
Beijos

Obrigada, Ira. Volte mesmo, e pode me aguardar também no seu Faces do Poeta.
Beijos

Cla, queridona, quando é que você e outros leitores mais íntimos do Tuca vão parar com essa mania de chamá-lo de Tutuca. Nada contra, não. Só tenho é um certo medo de que vocês comecem a me chamar de Angagá...
Quanto à Maíra e seu cavalo Xamã, foi moleza para o Tuca indentificá-los na bela foto que você postou. Ele é especialista em retaguardas eqüinos. Ainda mais em se tratando da retaguarda de uma potranca escultural como a Maíra...
Beijinhozões

Anga Mazle disse...

Bem-vinda, Niña. Seu blog é novo mas já promete, por suas opiniões sinceras e firmes, geradoras de polêmicas.
Apareça mesmo no Rio, será um prazer recebê-la.
Beijos

Soraya Guimarães disse...

é de todo maravilhoso saber e ler tais palavras no meu blogue perante um texto escrito por mim. Agradeço imenso o comentário, e além do mais, venho aqui não só para agradecer mas como também para lhe felicitar o espaço fantástico que aqui tem.
É de todo o meu agrado ler-lhe.
Parabéns por cada palavra sua, por cada opinião. Muitos parabéns mesmo :)
Beijoo *

Anga Mazle disse...

Obrigada, obrigada, muito obrigada mesmo, Soraya!
Beijoooo

Ana disse...

Olá Anga
Obrigada pela visita e pelos elogios também :)
Fique à vontade e use qualquer imagem minha.
beijocas

lálá disse...

Parabéns pelo texto, de alguma forma eu cheguei a pensar que estava lá na rua dourada ^^
Vou cursar letras no próximo ano, um texto como este só me reforça a idéia do que quero.
E aproveito para agradecer a visita =)

Continarei acompanhando o blog,um estímulo maior para seguir com o curso que escolhi.

Beijos!

Anga Mazle disse...

Obrigada, Ana.
Em breve postarei algum texto ricamente ilustrado por um de seus trabalhos.
Beijocas

Você tem o prazer da escrita, Karen. Vá fundo no curso!
Beijos!

Tatiana disse...

Nossa Anga..que post mais lindo, uma declaração de amor pelos olhos de uma menina de 12.Pena que o dito cujo nao reconheceu tamanha sensibilidade!!
Outro reconhecera com certeza( se ja nao o fez..rsrs).
Ter um dom desses como o seu é uma dádiva!Para os que não têm, nos deliciamos com textos como o seu!!
Beijocas!