"Para amar uma mulher por inteiro
é preciso se dividir em mil pedaços."
. . ¨. ¨ ¨. ¨. ¨. . ¨. ¨¨. . . . ¨¨. (Teophanio Lambroso)
¨ .
¨
.
É noite. O cuco já não canta as horas, porque o cérebro, grudado feito uma craca no relógio, além de não permitir que a portinhola se abra, trava os dois ponteiros, senhor absoluto do tempo morto. Penduradas no lustre da sala, aceso, as pernas rebrilham, mas não têm forças nem para vagar à toa pelo teto. O fígado e o pâncreas se esparramam no armário de bebidas, entre garrafas de pinga, vodca, genebra, conhaque... todas vazias. A bunda está sentada, sem se perguntar para que, na bicicleta ergométrica. As tripas jazem na geladeira, sobre, envolvendo o pingüim, resignado, na sua passividade de louça. Os rins, o estômago e outras vísceras desapareceram, mas há tanto armário, tanta gaveta pela casa... Do saco, rasgado e separado do pênis, os testículos rolaram e foram adotados, como bolas de futebol, pelos três gatos. A cabeça, oca e sem o olho esquerdo, foi parar no tapete, junto com a barriga, vazia, e o peito, sem o coração, como se confabulassem sobre o problema comum da falta de estofo. Já os braços, o direito sem a mão, parecem tranqüilos embaixo da cama de casal, cruzados.
Muito antes de William Bernardes dizer boa noite, o olho esquerdo se fecha e cai – no sono e da poltrona – bem na palma da mão direita. Logo os dois se juntam, já na porta de casa, ao pênis, erecto, que controla com embaixadinhas o coração, ainda pulsando. E lá se vão os quatro para uma noite de orgia interminável, a iniciar-se num bar, assim que o coração, esmurrado pela mão direita e cabeceado pelo pênis, parar de bater, pronto para entrar na dança. Uma salsa – frenética, esquizofrênica, de tanto tesão de viver! Deflagrada pelo olho esquerdo que, ao despertar, sob a mesa em que os quatro se acoitam, reconhece, lá no fundo de um par de coxas entreaberto, o sorriso sem calcinha da parte mais enigmática da musa inspiradora do meu auto-esquartejamento.
Postagem de 30.11, repostada em virtude do acréscimo da ilustração de Hélio Jesuíno, extraída das páginas de Suíte Iconoclasta / Parte 3
8 comentários:
O texto tá ótimo, lindo mesmo. Mas, menino, que citação! Esse Teophanio é tudo mesmo! Emocionei-me! (E esquece o fato de que sou suspeita pra falar dele, tá?).
E Tuca, ja entrou pros favoritos, viu?
Beijo!
1 de dezembro de 2009 19:02
Valeu, Mariana!!!
Que delícia ter por aqui a mulher mais especial de Maceió. Bem, conheço poucas além de você, mas se entre as milhares que não conheço tiver meia-dúzia do seu naipe, essa cidade é mesmo uma mulheravilha!
Só não gostei de você valorizar tanto assim a citação daquele pacóvio do Teopha. Mas, se isso a estimular a aparecer mais por aqui, vou postar não só frases do chapeludo, mas também textos maiores. E mais: criarei uma categoria só para as coisas dele, intitulada "Teopha da Mariana Maceió"...
Beijão
2 de dezembro de 2009 01:52
aê cara esssa historia tá com nada falou
caô de ciganinha... xoxota enigmatica, tu naum saca eh de muleh vai fala de homem ashuashuashuah
2 de dezembro de 2009 06:14
Não sou bom nisso, Helvecio, mas já que você está pedindo, na próxima postagem falarei de homem, daquele tipo de macho guerreiro que certamente lhe agrada. El Cid, o grande cavaleiro que luta contra o rei, para tentar aparecer um pouquinho e reacender seu ibope apagado.
3 de dezembro de 2009 03:18
da um tempo aê meu, naum tenho nada com as tuas marra falou!
5 de dezembro de 2009 06:53
Genial!Theofonio Lambroso é do caralho!
7 de dezembro de 2009 22:24
Ele é danado mesmo, Marquesa. O rei das epígrafes. Mas me mandou um conto que diz que escreveu só pra cortar a onda do pessoal que o chama de frasista.
Não vou nem contar pra ele que você o elogiou. Primeiro, porque ele já é besta o suficiente. Segundo, porque você errou o nome dele. Teopha não suporta que as pessoas errem um nome, segundo ele, "tão comezinho, quase biritazinho".
8 de dezembro de 2009 21:25
Puta que pariu tanta parte - FALA SÉRIO!
Postar um comentário