sábado, 28 de janeiro de 2012

Um navio no canavial

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Um navio no canavial é o título do único livro que o poeta e compositor Paulo Emílio (da Costa Leite) escreveu – sem contar “Eu e meu cavalo”, uma série de poemas que ele pretendia ampliar e também transformar em livro. Embora o “Navio” pareça pronto para navegar no canavial, ele nunca o deu por terminado. De meados dos anos 70, quando li os originais pela primeira vez, até julho de 90, quando ele os deixou na minha casa ao mudar-se de lá para a praia niteroiense de Piratininga (onde veio a contrair, cinco meses depois, perto do Natal, a doença que o mataria antes do Ano Novo), o único acréscimo feito à obra foi o título, surgido à época (82 a 87) em que o poeta morou em Santa Rosa de Viterbo – SP, principal "porto do mar canavieiro" dos Matarazzo.  Mas alguns trechos das dezenas de poemas encadeados que compõem o livro ganharam vida pública, musicados. O melhor exemplo surgiu na letra do samba “Made in Brasil”, com João Bosco, que continha pelo menos um verso de um dos poemas do “Navio”. A música foi feita em 78, especialmente para um show que o compositor mineiro faria no Japão. Não chegou a ser gravada em disco, porque João voltou a trabalhar com Aldir Blanc, e os três fizeram o LP “Linha de passe”, cuja música-título era uma nova versão de “Made in Brasil", acrescida de uma segunda parte letrada por Aldir. A diferença entre os versos dos dois letristas é grande e, para enfatizá-la, confronto trechos feitos por cada um deles com a letra de “Cobra criada” (só do Paulo Emílio com o João), que estilisticamente só tem  a ver com a primeira metade de “Linha de Passe”. Senão, vejamos:

Linha de passe / Paulo Emílio:  Toca de tatu, lingüiça e paio e boi zebu/ Rabada com angu, rabo-de-saia/ Naco de peru, lombo de porco com tutu/ E bolo de fubá, barriga d'água / Há um diz que tem e no balaio tem também/ Um som bordão bordando o som, dedão, violação (...)

(Em itálico, o verso que provém de um dos poemas de “Um navio no canavial”.)

Linha de passe / Aldir Blanc:  Já era Tirolesa, o Garrincha, a Galeria/ A Mayrink Veiga, o Vai-da-Valsa, e hoje em dia/ Rola a bola, é sola, esfola, cola, é pau a pau/ E lá vem Portela que nem Marquês de Pombal/ Mal, isso assim vai mal, mas viva o carnaval/ Lights e sarongs, bondes, louras, King-Kongs/ Meu pirão primeiro é muita marmelada (...)

Cobra criada: Suco de sururucu/ Diga lá jacu/ Cutia comadre/ Posta de pirarucu/ Diga lá caju/ Barata cascuda/ Gruta de viúva negra/ Caranguejeira/ Saúva coruja/ Rastro de jararucu/ Jararacoral/ Piranha calunga/ Diaba de banda retrai/ De carataí/ Traíra de dente de dá/ E cada dentada que dá/ Cascudo cará/ Purus Juruá/ Mordida no maracujá/ De cobra criada no mar/ Chocalha no cadê você/ Sussurra no bote que dá/ Curare de cobra/ Suga e sai/ Picada de cobra/ Amor não dói.
 
A aventura no ‘mar dos canaviais”, Paulo Emílio a justificava com o desejo de morar num lugar mais tranqüilo, onde pudesse terminar o livro e cuidar da saúde, debilitada por um princípio de cirrose diagnosticado em 81. Se não terminou o livro, como eu já disse, da saúde ele tratou foi com muita cerveja e pinga, que é impossível ficar sóbrio num lugar apinhado de boêmios “24 horas” e doidos com pós-doutorado. Como se não bastasse, a cidade tem quatro ou cinco botequins por metro quadrado (exagerei: são só três ou quatro!). Eu mesmo, nas mais de dez vezes em que estive em Santa Rosa de Viterbo, só não tomava dois porres por dia quando tomava três. Isso, se não emendasse uma bebedeira na outra para, no mínimo, poder dizer à família e aos amigos abstêmios daqui do Rio que estive em Santa Rosa   durante três semanas, por exemplo e só tomei um porre!


Psicoterapia floral com cheiro de mandioquinha

Chega de falar de Santa Rosa de Viterbo, que esse é um dos capítulos mais longos (se é que tem fim) da vida do Paulo Emílio. Chega de post, inclusive, que já vai enorme e ainda tenho de acrescentar pelos menos dois vídeos de músicas do poeta cantadas por suas intérpretes prediletas: Elis e Clara Nunes. Mas preciso dizer mais três coisinhas:

1 – Nunca publiquei nada sobre o Paulo Emílio nesses 21 anos sem ele. Não sei bem o motivo desse silêncio. Talvez se deva ao fato de me bastar manter com ele conversas em momentos que não estou entendendo o que se passa comigo. E isso acontece a toda hora...  Posto agora em razão do aniversário dele, o que soa bem absurdo, como se tivessem se passado vinte anos sem o dia do aniversário dele. Que aliás foi anteontem, 26 de janeiro. Meu atraso é por culpa da Net, que ontem e hoje deu duas bandas certeiras na minha cada dia mais estreita banda larga.

2 – Não consegui escrever alguns casos do Paulo Emílio que achava essencial contar aqui. Mesmo depois de tanto tempo, relembrá-los me emocionou a ponto de o coração engruvinhar e as mãos travarem. O que se segue, por exemplo, escrevê-lo foi quase um parto natural de quadri ou pentagêmeos.

3 – Num dos piores dias da minha vida, eu estava trabalhando no Bar da Pombas, negócio maluco inventado por alguns amigos que, sensatamente, acabaram desistindo da idéia. Mas o pacóvio aqui foi em frente e o comprou, no início de 78. O bar em si até que ia muito bem: 20 meses após a compra chegávamos àquela fase em que se começa a ter lucro. Mas meus dois sócios estavam de saco cheio e queriam vendê-lo. Minha mulher estava de saco cheio e queria que eu o vendesse. E meus pais, meus amigos, meu cachorro... o mundo inteiro estava de saco cheio do Bar das Pombas. Menos eu, que não tinha um saco pra encher: o meu estourara havia meses e, em meio a tanta demanda alheia, não me sobrava tempo nem para arranjar outro saco. 
E agora eu estava ali, trabalhando no bar, mas doido para sair correndo, me esconder num canto e chorar com meus botões. Era pouco mais de meia-noite, dois ou três bebuns no balcão e as mesas vazias, os empregados me pressionando para irmos embora e eu querendo manter o horário mínimo que estabelecera para fechar, que era duas da manhã. Sustentava meus escombros apoiando os cotovelos na caixa registradora quando, de repente, pude distinguir lá fora, atravessando a rua escura e deserta em direção ao bar, um ser todo de preto, das botas de cano curto ao chapéu de abas largas. Era a salvação, pensei, porque se não fosse o Hopalong Cassidy ou O Paladino do Oeste, heróis do meu faroeste infantil, só podia ser o Paulo Emílio. E era ele mesmo, o herói do meu faroeste adulto. Entrou, seríssimo, com aqueles olhos penetrantes e perscrutadores cravados nos meus. Não falou comigo, mas com o copeiro: “Duas cervejas, dois copos e dois traçados de conhaque com cinzano. Ah, e diz pro seu chefe que mandei ele fechar logo essa espelunca e ir lá pra minha mesa.” Em menos de um minuto despachei os empregados, baixei a porta corrediça e fui pra mesa dele: a última, uma das seis que ficavam numa área a céu aberto, sob uma amendoeira centenária ou quase. Paulo Emílio gostava dessa mesa por ser a mais discreta e por ficar bem junto ao rio Maracanã, que ladeava o bar em todo o seu comprimento. “É a mais confortável. A gente não precisa correr ao banheiro para vomitar.” Bebemos as duas cervejas, os traçados e depois mais quatro ou cinco cervejas, sem que eu desse um pio sobre o que me afligia. Ele não me deu chance: falou besteira atrás de besteira e quando viu que eu já estava bem melhor, mas muito bêbado (aqueles porres quase instantâneos de quem está mal), falou: “Vamos para casa”. O que significava irmos pra minha casa, porque isso – uma casa pra chamar de sua – ele já não tinha havia alguns anos. 
Acordei com o apartamento inundado de cheiro de ensopado de carne com batata baroa (a mandioquinha dos paulistas), um dos pratos que o Paulo Emílio mais gostava de fazer e, sobretudo, o que eu mais gostava de comer. Isso me fez levantar com uma disposição bem rara naquele período. Já me imaginava à mesa devorando o ensopado e falando, com serenidade, tudo que eu não falara de madrugada. Qual o quê!  Não falei uma vírgula sequer sobre o assunto com ele. Nem durante o almoço nem jamais.  Porque toda a angústia que eu vinha sentindo me pareceu tolice, coisa miúda, ao chegar na sala e me deparar com a mesa que meu amigo acabara de pôr. Toalha branca de linho com guardanapos combinando, panela de barro com o ensopado, travessa de arroz com seis ou sete ovos fritos por cima (iguaria especialíssima para nós dois), garrafa de vinho tinto poruguês e, no centro da mesa, imponente feito uma jarra de cristal da Boêmia, o copo do liquidificador exultando de rosas brancas.

O poeta, o pescador e o peixe de Itu

Paulo Emílio, em Santa Rosa de Viterbo, com o nosso querido Dito Cervi, que mostra o tamanho da piaba que pescou no rio Pardo. Admirador de uma boa mentira ("A inteligência é burra e a verdade, dissimulada!"), o poeta, sempre alerta, faz um de seus gestos mais peculiares: essa mão com o dedo médio apontado para cima, o anular para frente, o mindinho para baixo e o polegar e o indicador em pinça, prontos para pegar e saborear os microscópicos tesouros infinitos de cada pessoa, as migalhas de felicidade compartilháveis, a lingerie das moléculas do imponderável.

  
 COBRA CRIADA – João Bosco e Paulo Emílio
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NATUREZA VIVA – João Bosco e Paulo Emílio
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NAÇÃO – João Bosco, Aldir Blanc e Paulo Emílio
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 Um tema bem adequado para o fim do mundo

 
“Eu quero me confessar
Antes da barca afundar:
 Sei onde guardam o rum
E a vida é uma casca de noz.”

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  (De uma das últimas canções  que o Paulo Emílio fez – letra e música. Esses versos iniciais se encaixam bem na atual moda de fim do mundo, não? Pois a continuação, que infelizmente não lembro direito, é o próprio apocalipse!)


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42 comentários:

Tania regina Contreiras disse...

Tuca li de cabo a rabo, nas linhas e nas entrelinhas, porque a figuraça aí (o Paulo Emílio), não cabe só nas linhas, não é verdade? Eu fui "conhecendo" o Paulo Emílio a cada descrição sua, desde quando apareceu na escuridão, com suas botas de cano curto, e quando vi a mesa posta com copo de liquidificador com rosas....ah, nossa, eu me apaixonei! Um escândalo a Elis interpretando a Cobra Criada, e Nação da voz da Clara Nunes sempre foi uma coisa, sem que eu soubesse, por todo esse tempo, do Paulo Emílio!

Post arrasante! Arrasou, Tuca, que VENHA MAIS!!! Porque você deve mais, heim? Tô bem lembrada que há mais histórias, o porre que viu amanheceres, enfim, "tô ligada"... Vou querer mais e mais.

Beijão,

Ira Buscacio disse...

Tuquinha, tô chocada, isso é que se pode chamar de um texto de amor.
Não só caminhei pelas imagens, como senti o cheiro, a fome, a dor, o carinho, o porre, o choro e esse amor abençoado dos amigos. Você é uma caixona de surpresas!
Fiquei pensando nos 10 anos que batalhei na música, por alguma migalha de canto, toda entregue na fé dos loucos (esses loucos que não possuem escolhas. É louco por que assim tem que ser)e entendi Paulo Emílio com meu coração.
Como pode um autor, de cobra criada, linha de passe, que são enormes sucessos, não ter o nome prestigiado pela mídia, pela indústria fonográfica. Poucas pessoas tem esse conhecimento e o pior é que isso não é somente privilégio do Paulo Emílio. Vai entender a humanidade. Enfim, o que quero ressaltar é essa belezura de amor, que vc guardou para o compositor.
Bj imenso

Unknown disse...

Puxa Tuca, teu texto é tão envolvente que me deu uma saudade retada do Paulo Emílio que sequer conheci,



grande abraço

Joelma B. disse...

Gosto de conhecer as pessoas através de tua voz, Tuca... tornam-se velhos conhecidos, sem exagero!

e que canções!!

Grata pela oportunidade!

Beijinho com admiração!

Domingos Barroso disse...

Grande poeta,
grande xamã
...


forte abraço
...

marlene edir severino disse...

Adorei, Tuca!
Gosto demais de tuas histórias, tão envolventes com tanta riqueza de detalhes.

Não desgrudei os olhos do texto
até o desfecho

Abraço, daqui

dade amorim disse...

Não dá pra garantir, mas pelo sobrenome, Costa Leite, Paulo Emílio pode ter sido da família do médico que tratava da família do meu marido. Agora, você ser dono do Bar das Pombas é uma descoberta incrível. O bar, assim como o rio Maracanã, foram meus vizinhos durante muito tempo.
Os vídeos são uma maravilha, do tempo em que minha patota curtia adoidado João Bosco e seus parceiros e a gente tinha todas as fitas dele.
Enfim, Tuca, um post cheio de graça, carinho, simpatia e malandragem.
Beijo pra você.

Margaryda Brito disse...

muito bom fazia tempo que não passava por aqui um abraço de flor um cheiro poético pra ti , bjs e aplausos

Marcantonio disse...

Eu gostaria de ter capacidade e, posso dizer, vivência para escrever algo assim. Navio que não encalha e do qual o leitor não quer desembarcar nem ao final da viagem.

O caso narrado do Paulo Emílio é bom demais, comovente, poético, desavergonhadamente humano. A imagem do liquidificador com rosas é tão simbólica dessa mistura de nonchalance com profundas demonstrações de teor poético nos pequenos gesto que certos seres especiais têm, como se, desapercebidos, tirassem a beleza da cartola em meio à sensaboria do cotidiano!

Mas, não pude deixar de pensar que o belíssimo trecho "prontos para pegar e saborear os microscópicos tesouros infinitos de cada pessoa, as migalhas de felicidade compartilháveis, a lingerie das moléculas do imponderável", poderia também, pelo que vejo, definir perfeitamente o autor do texto, não?

Grande abraço com admiração.


Ps.: Cheguei a sentir o cheiro da batata baroa (chamá-la de mandioquinha é dar-lhe uma injusta subalternidade)! É prato de que gosto muito. Ô cheiro para abrir o apetite!

Dario B. disse...

Me emocionei pra cacete, e vou te dizer uma coisa, Tuca. Só quem teve um amigo assim sabe o que isso significa. Traçado de dreher com cinzano (aqui em SP chamam de rabo de galo). O acordar do porre sem saber se o cheiro da comida é real, ou se está dormindo ainda. E as rosas no copo do liquidificador, Tuca, quase me fizeram chorar. Eram um, "Obrigado amigo, por deixar que a tua casa fosse minha por uma noite". Perdi um ou dois assim pelo caminho, só quem já teve sabe como é. Obrigado.

Anônimo disse...

Tuca,acredite sou de Santa Rosa de Viterbo e durante minha adolescência,pude estar inúmeras vezes ao lado de Paulo Emílio,no Curral Del Rey!!!
Obrigado pelo texto,pela boa recordação...rosas brancas em um copo de liquidificador,alma do poeta eternizada no tempo!Um salve para o Miguilho!!!
Abraços.

Primeira Pessoa disse...

Tuca, muito duca!
cê sabe que eu gosto dessas "prosa" (assim mêsss... nóis, minerim, temo tudo pobrema com prural...rs)


beijão, zapata!

byTONHO disse...



Tritura umas rosas brancas aí pra mim.
Tim! Tim! Tu-tuca!

Histórias Vi(Vidas pra contar!

:o)

Emília Vaz disse...

Um "Espirito" Zombeteiro me contou...que Paulo Emílio endeusava suas xarás e as chamava de Afrodite.
Tô me sentindo a própria!E esse espirito ainda foi mais longe,disse-me que ele,o Emílio,seria bem capaz de compor uma musica pra mim.
Te mete,hein Toni?Tô poderosa!!!

♪ Sil disse...

Tuca, que coisa mais lindaaaaaaaa meu Deus. Que texto, que história, que amor nas palavras. Morriiiiiiiiiiiiiiii, desmorriiiiiiiiiiiii, ao ver Elis Regina Cantando, porque ela pra mim, é e SERÁ sempre a Diva. Elis me leva as lágrimas. Mas o mais legal de tudo, foi conhecer através de você agora, o Paulo Emilio. Ai fiquei pensando: Meu Deus, um homem que escreveu coisas tão lindas, cade a perpetuação dele num País como o nosso? Eu não o conhecia...o que me faz crer (e doer) que IN-felizmente o Brasil realmente é um País sem memória.Dá-se um valor absurdoooo a essas merdanças musicais de hoje, que por Deus, verdadeiros lixos. Dou graças ao meu pai, por desde meus 14 anos de idade me apresentar feras da música como Cartola, Ataulfo Alves (Aiiiii que saudade da Amélia), Dolores Duran, e meu maior presente dado pelo meu pai nos meus 18 p/ 19 anos, foi assistir a um baile na cidade de Rio Claro do MITO Nelson Gonçalves. Morri de novo ao ver aquele homem cantando a volta do Boêmio (cantando e tomando ao mesmo tempo copos e copos de whisk). Nunca vou esquecer aquele baile. Sem contar meus inúmeros fins de semana no bar Trem das Onze no Jaçanã em SP, bairro que morei por mais de 20 anos...Enfins...obrigada meu querido por ter me apresentado a história do Paulo Emilio. Você é mesmo o caraaaaaaaa Tuca!!!

PS: Esses meus gostos musicais tão nova, devo ao meu pai, que por uns anos foi radialista. Beijooooooo

Clara Belisario disse...

Que coisa mais linda, meu amigo. Fiquei emocionada com tudo, principalmente ao ouvir essa gravação divina da Elis que eu já conhecia mas não sabia que o autor da letra, fantástica, era o Paulo Emílio.

Obrigada, Tuca!

Beijos

Marcel Zaner disse...

Que texto, Tuca!
Não sabia que você foi amigo dessa figura maravilhosa. Meu tio, que era bômio e arranhava bem um cavaquinho, era apaixonado por ele. A primeira coisa do Paulo Emílio que eu ouvi foi uma parceria dele com Djavan e o Aldir, Tem Boi na Linha. É a letra mais doisa que conheço e um grande barato. Pra quem já andou muito de trem como eu, é um hino!
Abração

Marquesa disse...

ai ai
fiquei descalça
me despenteei
tive um troço
ninguém me segurou

saí da gira
tonta pomba
posei nas rosas
caí dentro do liquidificador...

Marquesa disse...

Amado Conde, viajante das estepes e canaviais, a mim fizeste naufragar em mar de rosas brancas orvalhadas de lágrimas. Tuas palavras embebedam mais que cerveja com conhaque. traçado de pinga e que tais.
Ouço acordes de viola.

Zeza disse...

Bravíssimo!!!!!!!!!
Aranha querido, só você pra provocar na gente essa mistura de alegria, saudade, tristeza, ternura, amor.... Bela homenagem!

Frederica disse...

Nossa, estou até sem ar! Que figura mais especial, Tuca. E que amizade a de vocês! Momentos assim como esse almoço acontecido há tantos anos e que você narra como se tibvesse acontecido ontem é que me fazem acreditar que a vida é sempre maior que a morte!

Beijos, beijos, beijos!!!

Zélia Guardiano disse...

Pacote de pura emoção! Eu já estava pronta para chorar e o copo do liquidificador fazendo as vezes de vaso para as rosas foi a gota d'água. Antes, a chegada do heroi na madrugada, para resgatá-lo das garras da agonia, o baixar a porta, a mesa debaixo da árvore, o "vamos para casa", a aromaterapia da mandioquinha... E o retrato do Paulo Emilio, as mãos do Paulo Emílio, os olhos do Paulo Emílio... E Elis. Grata, querido, pelo momento único!

Abraço apertado!

Faltou dizer, Tuca: Que texto!!!

Bípede Falante disse...

Tuca, eu nem quero me confessar porque a minha bipedice não conhecia tão precioso poeta :(
Quero é dizer que me senti tão em casa quando desestabilizada lendo esses versos e a sua tuquice, tuquice que sabe ser também escrita em doce.
beijoss, peste :)

Marcia Falconi disse...

Que maravilha Aranha, linda homenagem.
Deu muitas saudades.
Ah! vc náo exagerou na quantidade de botequins de Sta Rosa, la tem muito o que comemorar, muita gente boa e sempre atraindo outras tantas. beijos querido.

Tatuagem disse...

Boas músicas!

Beijo

Cris de Souza disse...

Ri e quase chorei, você consegue me envolver nos seus causos de cobra criada. Esse Paulo Emílio além de ser uma fera era também um gato, heim! Pombas! Queria ter conhecido seu bar... E ainda de gruja, Elis e Clara dando uma canja- é demais pro meu faminto coração!

Obs: Tenho liquidificador, só falta as rosas brancas. Vou ali pescar...

Beijo, Tutucão*

Americo Gentil disse...

Você anda iluminado mesmo, rapaz. Processando suas grandes perdas com um lirismo e uma grandeza que comovem e seduzem, transformando a falta em presença intensa, negros espinhos em rosas brancas para nos brindar.
Obrigado.
Grande abraço

denise dallal disse...

E quando eu leio dá uma saudade... que me faltam todas as palavras que , felizmente brotaram em ti , e eu lembro que eu o guardei no nome de minha filha e no risco do meu olho esquerdo ... Paulo nos salvava das formas mais inusitadas , já me chamou para caminhar sem dizer palavra e ao chegar na pedra da prainha ( eu já grávida do Robinson sem nem saber ) disse que partiria e que dessa vez iria só , se calou de novo , passou a mão pelos meus ombros e ficamos sentados e quis que eu tomasse um grapete enquanto ele tomava uma cerveja ; à noite me pediu para assar um queijo minas e passava 8 e meio do Fellini , já não estava bem , dali para frente começou a sua viagem ... também não gosto de falar da viagem , só do grapete ... meses depois eu e Robinson recebemos nossa filha e a chamamos de Maria Paula ... ela adora grapete ...obrigada pela tua lembrança tão forte dele , me trouxe o amigo aqui do lado ...

Romeu Antunes disse...

Caro Aranha,
Sobre a gravação de "Rainha" que você recebeu do Ivanzinho, aquele súbito silêncio do Paulo Emílio, suprimindo "bebo rum" no verso "eu bebo rum em Dakar" não significou uma interrupção para dar uma talagada de rum. Na verdade, o silêncio foi por mero esquecimento da letra, já que o rum, o poeta levou pro palco já guardado em si. Depois, o câmera acendeu a luz e fudeu de vez: "Alteza dos anéis envenenados"... LIMA, APAGA ESSA MERDA!..."Nas taças dos heróis embriagados..."
Depois uma moça entrou no teatro arrastando tamancos, Paulo Emílio ficou sorrindo pra ela e o Marcelo Lessa dando nós nos dedos para preencher com o violão o vazio de palavras que se seguiu. Do show fomos pra casa do Gerson e o Paulo Emílio colocou sal demais na comida, embevecido que estava com a menina de tamancos que seguiu nossas pegadas. E depois ficamos todos prontos para ser pegos e saboreados nos nossos microscópicos tesouros, despidos de lingerie e etc!
É, garoto, eu estava lá...
Abraço

J Araújo disse...

Cara, parabéns! Uma linda homenagem ao amigo. E com certeza você construiu uma linda historia.

abraço

Ricardo Novais disse...

Fantástico poeta! Muito legal, Tuca. Tua generosidade só não é maior que tua mente que guarda todos os tesouros do mundo.

Um forte abraço.

Márcia Luz disse...

Tuca, não é a primeira vez que você me faz chorar, mas, com certeza, foram as lágrimas mais felizes. É a mesa mais bem posta que já li.
Parabéns!!!

Susana disse...

Emoção do começo ao fim, Tuca, vinda de todos os sentidos que o seu
texto provoca. Imagens ricas de cheiro, gosto, formas e gestos. E ainda
nos brinda com duas músicas inesquecíveis.
Parece-me que as suas escavações arqueológicas não se limitaram aos
papéis e revistas, também foram às memórias mais comoventes.
Uma figura e tanto, o Paulo Emílio. E sobre a amizade de vocês,
compartilhada dessa forma tão generosa e deliciosa por você, dá
vontade de saber e ler mais...
beijos
SuSana

Adriana Riess Karnal disse...

Tuca,
uma das coisas pelas quais mais luto nesse vida é contra a ignorância. Quando você me disse que era uma pena eu não conhecer o Paulo Emílio no Facebook tratei logo de encontrá-lo. É claro, vim beber na sua fonte, e que maravilha! a vida é uma casca de noz, metáfora interessantíssima a dele (de uma casca grossa a uma fruta macia e saborosa).Concordo com a Cris, ele eraum "gato" ainda por cima,kkkk

Domingos Meireles disse...

Sensacional! Conheci o Paulo Emílio nos áureos tempos da Carvalho Alvim, figura humana inesquecível, contagiava o ambiente com sua grande sensibilidade, senso de humor e o jeito de chegar em qualquer um que aparecesse como se já fosse um velho amigo. E era, não é mesmo?
Uma homenagem mais que merecida a um poeta da música e da vida!

Aline Chaves disse...

Que crônica, Tuca! Ri e me emocionei muito com tudo. Que poeta, que pessoa linda (fisicamente também) era o Paulo Emilio! Compartilho a sua dor da saudade com um sentimento de perda por não tê-lo conhecido. Mas que bom é senti-lo vivo nas coisas lindas que deixou, como essas músicas maravilhosas cantadas por duas vozes divinas, inesquecíveis também.
Beijos

Zoraide Alves Abdalla disse...

Faço minha as palavras da Zeza, "pobre @r@nh@". Me deu muita saudade de todos e adorei o texto. Mas pode descansar um pouco, pois não precisa armar teia nenhuma pra gente lembrar de você, chuchuzito. Bjs

Anônimo disse...

dois dias depois ...eta sixto (VI) tinha post de carnaval demorava 3 dias a ler...assis só foram 2 e só tomei meio porre

Psicoterapia floral com cheiro de mandioquinha...flor de mandioca cheira a quê...aqui mandioca nunca tem frôr adeve ser do frio...

bondearte disse...

Incrivel o texto,
obrigado por compartilhar,
parcerias como as de Paulo Emilio e Aldir Blanco é que fazem a musica brasileira estar entre as melhores musicas do planeta.
Bom Domingo

Jey Cassidy disse...

Oi Tuca,
Dada ficou com ciúmes do seu barquinho ser roubado!!!!Mas foi por uma boa causa!!!Por isso, Dada se sentiu feliz e orgulhoso e também achou um privilégio único!
Todos os Dadas amaram o post, eles estão nadando de braçada nesse canavial!!!

Antonio Alves disse...

Tocante e envolvente toda a postagem, Tuca. Que figura especial era (é!) o Paulo Emílio. A gente se sente tão próximo dele como se ele fosse um grande amigo nosso também!
Um grande abraço

Danilo Sergio Pallar disse...

Excelente as postagens que possui seu blog, estarei lhe seguindo.