segunda-feira, 4 de abril de 2011

Poemas com bula, já!

.

A Assis Freitas, António Cabrita,

Marcantonio e tantos outros poetas

que têm a mania de escrever

versos desconhecidos.


. . . . . . . . . . . . . . . . ..Há muito tempo pastava eu aqui à espera

. . . . . . . . . . . . . . . . ..de uma hora para a gente conversar

. . . . . . . . . . . . . . . . ..sobre um tema de grande relevância:

. . . . . . . . . . . . . . . . ..a mania que certos poetas têm

. . . . . . . . . . . . . . . . ..de só escrever versos desconhecidos,

. . . . . . . . . . . . . . . . ..a fim de causar desentendimento

. . . . . . . . . . . . . . . . ..às pessoas mal analfabetizadas.

.

. . . . . . . . . . . . . . . . ..Além disso, essa turma toda emprega

. . . . . . . . . . . . . . . . ..um monte de palavras que ninguém

. . . . . . . . . . . . . . . . ..sabe – só pra complicar ou falar

. . . . . . . . . . . . . . . . ..de coisas que não precisam ser ditas,

. . . . . . . . . . . . . . . . ..pois não fazem a gente se sentir

. . . . . . . . . . . . . . . . ..um passarinho com o coração

. . . . . . . . . . . . . . . . ..cheio de alpiste, uma flor com os óculos

. . . . . . . . . . . . . . . . ..a cintilar de ferroadas de abelhas,

. . . . . . . . . . . . . . . . ..ou uma multidão de estrelas no céu

. . . . . . . . . . . . . . . . ..se amando ardentemente – sem ky,

. . . . . . . . . . . . . . . . ..mas com camisinha à prova de bala.

.

. . . . . . . . . . . . . . . . ..Ora, se querem versejar assim,

. . . . . . . . . . . . . . . . ..tudo esquisito e desumano, lasquem,

. . . . . . . . . . . . . . . . ..depois do fim, ao menos uma bula,

. . . . . . . . . . . . . . . . ..feito a que a gente só lembra de ler

. . . . . . . . . . . . . . . . ..quando já atura o toró do purgante

. . . . . . . . . . . . . . . . ..que tomou... contra uma dor de cabeça!

.

. . . . . . . . . . . . . . . . ..No mais, bem diz, salvo engano, Bilac:

. . . . . . . . . . . . . . . . .. “Mesmo vocábulos de uso comum –

. . . . . . . . . . . . . . . . ..tal como fildras, neiroga, berdúnsculo,

. . . . . . . . . . . . . . . . ..vungarinvongal e estralhimblogênico –

. . . . . . . . . . . . . . . . ..só devem ser aplicados em versos

. . . . . . . . . . . . . . . . ..se a lira mais romântica o exigir,

. . . . . . . . . . . . . . . . ..e com toda possível sutileza,

. . . . . . . . . . . . . . . . ..de modo a que no leitor se inoculem

. . . . . . . . . . . . . . . . ..não por injeção ou xarope amargo,

. . . . . . . . . . . . . . . . ..mas por meio de spray ou supositório.”

.

Teopha . . . . . . . .

.

25 comentários:

Anônimo disse...

Metapoema perfeito, kkkk

Ana P. F. Januário disse...

vivo dizendo isso... mas ninguém me escuta!

Marcantonio disse...

Mea culpa! Opa! Reconheço a minha culpa e aceito de bom grado a sugestão, escolado que estou depois de passar pelo constrangimento de ter eu mesmo que consultar um dicionário para ler um poema genérico meu escrito seis meses antes.

Que venham as bulas em posfácios explicativos, constando de fórmula, indicação, reações adversas, interações poéticas, posologia e, principalmente, conduta na super-dosagem, já que também ando a escrever uns poemas desmedidos.

Entretanto, receio que terei de contratar alguém para redigi-las, pois se eu mesmo o fizer, a emenda talvez saia pior do que o soneto! E viríamos a precisar de bula para a bula...

Bem, a gente vê o argueiro no olho do outro e ignora a trave no nosso: sabe que já pensei nessas bulas para certas obras de arte contemporânea?

Um amplexo, Theopha. E um ósculo para a Anita, que também ajudou a abrir os meus olhos, digo, ouvidos.

Vera Andrade disse...

Não te aguento, Teopha,seu debochado adorável.

"a mania que certos poetas têm
de só escrever versos desconhecidos,
a fim de causar desentendimento
às pessoas mal analfabetizadas."

kkkkkkk

beijos

Antonio Alves disse...

Fildras, Neiroga e Berdúnsculo, salvo engano, formavam o zaga da inesquecível seleção da Bósnia que perdeu de 11 x 2 pro Barcelona.

Vungarinvongal e Estralhimblogênico entraram no segundo tempo e marcaram os dois gols de honra dos bósnios.

Sam. disse...

"batatinha quando nasce esparrama pelo chão, nenezinho qdo dorme põe a mão no coração"

Ah, mas o popularesco é tão bonito....hahahahahaha

sacanas adoráveis vcs...

Unknown disse...

tinha uma palavra no meio do poema
no meio do poema a maldita palavra
calçou-me de pedra o estuário
não era simples rima de Raimundo
que versa com mundo, imundo, viramundo
a palavra cosmedida - mistura de
cosmético e desmedida - pedia uma saída
desembaraçada de tantos nós frouxos
o passo coxo, a lisa coxa,
deixou-me métrico e roxo
até verter água em cocho



abraço

p.s. receita de poema (vide bula)

Geraldo "Poeta louco" disse...

Estava me esquecendo...
Bom de mais este Bog!!!

Suzana Guimarães disse...

Teopha, querido!

Amanheci de péssimo humor, pois pouco dormi, mas agora, lendo teu texto, meu coração suspirou aliviado. Graças a Deus, alguém nesta terra blogosférica fez, escreveu, deixou pudores de lado, soltou a bomba... fez tudo o que eu queria ter feito. E você é demais, ainda solta nomes.

Meu querido, não suporto poemas álgebras, aqueles que exigem muito raciocínio matemático para que possamos pelo menos entender, porque "sentir"?, nem f...(desculpa, querido, desculpa, suporta-me, hoje, não estou lá um doce). Poemas, textos, contos... verdadeiros bichos de sete cabeças, sem contar quando temos que ficar pulando palavras, frases, para conseguir apanhar um bocado no final.

Quantos livros maravilhosos já lemos, quantos poemas, quantos contos, quanta beleza escrita com palavras simples, com narrativas puramente poéticas e não bulas de remédio? Até essas, Teopha, até a tal da bula, dela temos que fugir, pois os médicos dizem que isso é leitura para eles e, se a gente inventa de querer entender, morre (ou de pavor ou por não tomar o remédio).

Gostaria de postar teu texto no CONTOS DE LILY, mas, omitindo os nomes das pessoas, porque sequer as conheço.

Um abraço de fã (mas sempre a tua eterna),

Suzana/LILY

Rosane Marega disse...

Teophanio, adorei a sua visita!
Beijossss e seja sempre muito bem vindo.

Domingos Barroso disse...

muito bom,
diria eu,
massa.

Unknown disse...

Até que enfim alguém ouviu minhas preces, bula ao final dos poemas era o que faltava para ajudar meu pobre cérebro a entender os poetas!!!

Izabel Lisboa disse...

Mo-ô, cê continua deliciosamente Cínico! Cê acaba de fazer ressurgir uma nova versão do já abolido Index Librorum Prohibitorum?! Que agora será intitulado Index Versorum Prohibitorum?! kkkkkk
Parabéns pelo talentoso jeitinho teophiano de homenagear tão ilustres poetas. Especialmente António Cabrita, que vim a conhecer por intermédio desse site.
Beijos e, continue assim, nada de juízo! Cê ocê muda ieu num vorto mais, tendeu?! kkkkk

Thiago Thi disse...

sensacional, Teopha.

mas ATENÇÃO, que já tem gente achando que você tá criticando ótimos poetas como os dessa tua dedicatória, e defendendo os "criadores" de versos déjà vu!!!

abração

Aline Chaves disse...

Um final de tarde perfeito, Teopha: saí mais cedo do trabalho, as nuvens de chuva se foram, o sol apareceu pra se despedir, peguei um ônibus vazio e estou aqui sentada, a caminho de casa, comendo bala de coco (daquelas que desmancham na boca!) e babando no notebook de tanto rir contigo, meu dragão encantado da ironia!

Beijão

Ps: Vou pedir ao Rafa pra me fazer uma declaração de amor bem parnasiana usando a palavra vungarinvongal...

Mirtes Rodrigues disse...

Gostei da irnoia desse texto,e concordo,acho que alguns poemas deveriam vir acompanhados de bula ou qualquer coisa desse tipo.Os poetas de hoje em dia estão ficando cada vez mais chatos e pedantes.

Teophanio Lambroso disse...

! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! !

ÊÊÊÊÊÊPA!!!

Parem as máquinas!... Chamem os bombeiros, a Polícia Montada e os Super-Heróis!!... Guinada total a estibordo!!!... Segundos, fora!!!!...Luz, Câmera, Inação!!!!!

Quem tá precisando de BULA sou eu!!!

Algo assim, genérico que é mais "baratinho", fácil de ler:

"Este texto, como todos do pacóvio Teophanio Lambroso, contém altíssimo teor de ironia, podendo causar confusão mental, pentaplegia espiritual e morte cerebral, entre outras mazelas ainda piores, por leitura pé-de-letrista."

Que fique bem claro a todos que estão me levando a sério (no pior dos sentidos, o da falta de humor) que nada tenho contra os poetas que "ESCREVEM VERSOS DESCONHECIDOS".

Pelo amor dos meu diabinhos, gente (inclusive você, queridíssima Suzana/Lily, que sabe muito bem que eu tenho um nome a desmazelar), alguém pode se dizer ou ser considerado POETA escrevendo VERSOS JÁ CONHECIDOS?

Eu sei que desses cocorocas verseiros há aos montes por aí. Aos montes, não; às montanhas, aos Himalaias! E as pessoas têm todo direito, é claro, de lê-los, de admirá-los, de colocá-los no Olimpo das suas estantes. Mas, lamento informar, o que eles fazem não é POESIA. É, com muito boa-vontade, divulgação poética, eco da voz de outro ou de outros, estes sim, poetas.

E mais: tirante a brincadeira com Olavo Bilac, não há no meu texto nenhuma referência desairosa contra os poetas - e escritores de um modo geral - que usam palavras que extrapolam o repertório básico do leitor medíocre. Se as pessoas não gostam de Ezra Pound, James Joyce, Mario Faustino, Jorge de Lima, Murilo Mendes, Guimarães Rosa, Fernado Pessoa (o do Desassossego e de outras obras "difíceis"), Clarice Lispector (a dos grandes romances, não a das crônicas de jornal e a dos romances ligeiros) etc... AZAR DAS PESSOAS!

E, por fim, eu não estou zombando de Marcantonio, Assis Freitas e António Cabrita, mas enaltecendo sua poesia, leitura altamente recomendável para quem freqüenta blogs e gosta de ler VERSOS DESCONHECIDOS.

Beijos e abraços!

! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! !

antonio cabrita disse...

eu ca meu caro lambrosão pago sempre as minhas bulas, supositório ou bulinha é comigo. por isso deixo ja a minha contribuição:

se o real não tenho em mão,
pago em verso no raposão

♪ Sil disse...

Teopha, querido!

Deus ouviu as preces de uma pecadora como eu.

Bem por ai seu texto, tem coisas que eu leio consultando o google pra vc ter uma idéia, e essa da bula foi fantástica kkkkkkkkkkkkkkkkk.

Aliás, eu como mal analfabetizada to indo consultar o pai dos burros pra ver o que significa:

Fildras, Neiroga e Berdúnsculo,e ai vai, hehehehe.

Um beijooooooo.

PS: Obrigada pelo traço curvilineo sempre no meu rosto.
Impossivel não rir aqui!

Mais beijo!

Suzana Guimarães disse...

Querido Teopha,

Eu não me digo e nem me considero poeta, e nem sei bem onde é que se compra o diploma, e nem quero saber, já que não estou interessada em comprar algo do tipo.

Meu único título é o de Bacharel em Direito e Advogada (atualmente, com inscrição na OAB/MG suspensa, por motivos óbvios, já que não mais resido no Brasil).

No mais, tudo é questão de gosto. Acredito no direito à liberdade de expressão, sei ler e leio e li o que quero e quis.

Vai nascer ainda aquele que me dirá o que ler, o quanto ler, quando ler e para o que ler.

Um abraço,

Suzana/LILY

Suzana Guimarães disse...

P.S.: e eu não sabia que a Clarice Lispector diminuiu de tamanho ao escrever crônicas para um jornal.

Lamentável!

Suzana/LILY

Marcantonio disse...

Rapaz, eu teria deixado do jeito que estava. Para bom entendedor circunflexo não é chapéu, e til não é cobrinha.

No fim das contas, trata-se da capacidade de entender uma das mais belas manifestações da inteligência humana: a ironia, aquela que subverte a ordem habitual, manjada e gasta das coisas. Capacidade, aliás, de mestre aqui no Desinformação. Ainda bem.

Abraço.

PS. Que eu saiba não há um só escritor que tenha se mantido sempre igual a si mesmo em qualidade. Salvo aqueles que não precisavam sobreviver da escrita ou os que sabiam usar sem pena a tesoura e o cesto do lixo.

versus disse...

Bonjour, chè fusto !

Loba disse...

muito, muito bom! E muito boa tb a reação dos poetas! a pluralidade de visões e opiniões é que nos faz crescer como leitor/escrevinhador e faz da linguagem um perfeito meio de comunicação!
beijo

Anônimo disse...

vim meter o bedelho na discussão.

Creio que o problema maior seja a verborragia com intuito de dar mostras de conhecimento: esbanjar erudição e ser hermético por se julgar superior.

Por outro lado, há o apreço pelo idioma, o que é louvável.

Há que se ter um cuidado ao comunicar.

Espero que a minha resposta não pareça genérica.