segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Da gaveta emperrada

.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . Teophanio Lambroso

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. ..O pião

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. ..Só tem dentes para o mundo

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. ..No vasto universo que conta

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. ..Aos seus olhos: aquele umbigo

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. ..Em cujas trevas, lá no fundo,

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. ..Jaz um pião tosco, sem monta,

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. ..Sombra das sobras do abrigo

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. ..Legado à filha como tumba.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . Fevereiro/99

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. ..Inúmeros

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. ..Tua aritmética de meus sonhos e temores,

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. ..Minha geometria de teus ângulos impalpáveis:

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. ..Nossa análise combinatória de incógnitas

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. ..Elevadas à máxima potência idealizada

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. ..E reduzidas ao mínimo múltiplo incomum

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. ..De uma dízima periódica finita.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . , , , . . . Julho/92

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. ..Pedra

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. ..Atravessa geleiras de meia-tigela,

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. ..Desertos chulos (com ar condicionado),

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. ..Rolo compressor que voa e desnivela

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. ..Vento sem ave ou avenca, com seu rabo

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. ..De petrificar olhos que babam rela,

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. ..De parir paralelepípedo, ao cabo

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. ..Do choco de tanto cascalho que atrela.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Abril/01


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19 comentários:

Ives disse...

Olá, interessante a aritimética da vida, que fragmenta o todo e transforma em nada, abraços

Valéria lima disse...

Lindo, doido, abusado, como é a sua poesia, a sua criatividade. A imagem achei sinistra.

Ps: nada melhor do que mergulhar num mar de trabalho.

Meu beijooO*

Zélia Guardiano disse...

Que bom, Theophanio, que conseguiste desemperrar a gaveta!
Três páginas [certamente,já, em tons de sépia] geniais!
Vir aqui é sempre muito bom: aprende-se.
Abraço , querido!

Bípede Falante disse...

Que rara matemática a deslizar pelas palavras!

Cynthia Osório disse...

salve salve a gaveta emperrada!!

Mendonça disse...

Excelente, Teopha.

Um homem, um casal e uma mulher, vistos por sua lupa poderosa, impiedosamente crítica e irônica.

Abraços

Aline Chaves disse...

Adorei os três poeminhas, mas não me peça pra dizer qual o melhor, Teopha.

Certos versos me deixaram tonta, de tão fortes:

"Nossa análise combinatória de incógnitas
Elevadas à máxima potência idealizada
E reduzidas ao mínimo múltiplo incomum
De uma dízima periódica finita"

"Vento sem ave ou avenca, com seu rabo
De petrificar olhos que babam rela,
De parir paralelepípedo, ao cabo
Do choco de tanto cascalho que atrela."

"Em cujas trevas, lá no fundo,
Jaz um pião tosco, sem monta,
Sombra das sobras do abrigo
Legado à filha como tumba."

Bem, acho que o Pião vai para o trono, por causa da foto, que é incrível e tem tudo a ver com o poema.

Beijos, queridão!

Mari Amorim disse...

Desejo que seus dias,sejam iluminados pela essência Divina,com Boas Energias Sempre!
Abraços
Mari

Titanasc disse...

Um show, Teopha!

Você é o meu mais heróico vilão!!!

Beijo

Luis Paulo Quintela disse...

Arrasando como sempre, Teopha. Os três poemas são ótimos, com a sua marca inconfundível.
Um abraço

Regina Conde disse...

Amei, Teopha!

Sua implacável matemática é, infelizmente, a matemática da maioria das relações. Perfeito.

Que estragos não faz um pião abandonado, hein! Homens que não brincam mais tornam-se maus meninos.

Beijos

Marcantonio disse...

Pelo que vejo, uma gaveta emperrada deve ser, então, como um cofre improvisado pelo acaso onde se guardam do tempo insuspeitas preciosidades, inúmeras, como pedra, pião...

Abraço.

Vera Andrade disse...

Presumo que nesta gaveta emperrada existam mais cacarecos preciosos como estes três. Que venham mais, não será nenhumum grande sacrifício examiná-los...

Beijos

Rindo de nervoso... ainda disse...

Pô,velho Teopha, sua inspirada versatilidade continua encantando os que deixam aberta ao menos uma gretinha de acesso aos sentimentos. Sobrando uma grana, troque os móveis. A última gaveta emperrada com que me deparei, foi dolorosa: até conseguir fechá-la, dali escaparam muitos de meus mais encantados sonhos.

Lupe disse...

Quanto mais eu o conheço, Teopha, menos eu sei o que pode sair dessa cabeça. E agora menos ainda, com a abertura dessa gaveta emperrada.

Ó céus, você ainda me mata ou me enlouquece!

Beijos

Antonio Alves disse...

Dá-lhe, Teopha! Três poemas imperfeitamente perfeitos ou perfeitamente imperfeitos, como convém a um sacana iconoclasta como você. Abração

Richard Mathenhauer disse...

Os versos são lindos, mas adorei a foto!

Abraços

Suzana Guimarães disse...

O primeiro poema e a imagem, por demais! E a menina parece uma gaveta em cima do sofá, quando a gente, à procura de algo, às pressas, tira-a do móvel e a coloca por sobre a cama ou um sofá, eis aí a menina.

Um abraço,

Suzana/LILY

► JOTA ENE ◄ disse...

ººº
Gosto da sua (vossa) poesia.

Bei-Jota !