sábado, 11 de dezembro de 2010

Forró sertanejo explode em três cidades

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Fortaleza, São Paulo e Ribeirão Preto já foram sacudidas pela música vitaminada – com pinga gel do interior paulista e caju-açu (maior que jaca) do litoral cearense – de Simarães e Zá Candão, a primeira dupla de forró sertanejo do mundo. A próxima cidade a ser brindada com essa explosão musical será Brasília, que receberá o show no próximo dia 15, às 20 horas, no Teatro dos Bancários. Salomão di Pádua, nosso correspondente na capital federal, informa que já foram devidamente reforçadas as estruturas das torres gêmeas do Congresso Nacional.
Para vocês terem uma idéia da loucura que têm sido os shows da dupla, comparem a imagem que ilustra a postagem anterior (feita antes da estréia em Fortaleza) com esta acima, que fiz após o segundo show lá, durante um “luau estrelado” que rolou em Canoa Quebrada. Estava todo mundo na festa, exceto a Dilma, que incumbiu o Lula de representá-la. Na terceira ou décima primeira caipirinha gel de caju-açu, eu já estava tirando coqueiro pra dançar. Já o Lula, convidado por minha bela e licorosa amiga cearense Gislene Vasconcelos pra trocar umas umbigadas num forró pé de serra, esquivou-se abruptamente, quase caindo de bêbado falésias abaixo: “Tô fora, companheira Gi. Mas se for um forró pé, joelho ou até mesmo cotovelo de Dilma...”
O grande sucesso da turnê de Cândidos, o CD em que a cantora e compositora paulista Simarães (ou Simone Guimarães, para os politicamente corretos) homenageia o também cantor e compositor, mas cearense, Zá Candão (Isaac Cândido), tem sido a versão em português do hit “Complexo do Alemão”. Infelizmente, o disco já estava pronto quando Teophanio Lambroso e eu compusemos, especialmente para a dupla, essa maracatira (mistura rítmica do maracatu pernambucano com a catira do interior paulista), cuja letra reproduzo a seguir.
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. . . . . . . . . . . . . . . . . . . Comprexo do Brasileiro
.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . .. . . .. . . . (Zamagna e Lambroso)
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . Esquece, véi, esse rap
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . Lambuzado de mentira
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . Tira o quépi
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . ‘Bora caí na catira
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . Chama as cachorra
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pru nosso maracatu
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . Vai que um de nós morra
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . Tá logo ali o Caju*
.. . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . * (cemitério carioca, perto do Complexo do Alemão)
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . Os hômi tomaro o Comprexo
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . Cum tanque metranca e bazuca
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . E a crasse média caduca
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . Gozô o que num goza no sexo
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . Se morresse muito inocente
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . Tava bão, que a ’tenção valia
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . No Cruzeiro perdi três parente
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . Que beleza, né?, mixaria
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . Ficaro mais coberto de umbigo
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . Que peneira de farinha de trigo
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. . . . . . . . . . . . . . . . . . . A pátria amada de chuteira
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . Bateu um bolão à bala
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . Força da Fé na cartucheira
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . Fazeno o milagre que cala
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . A boca dos pessimista, véi
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . Circão pra lá de bem armado
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . Mais chique que Cirque du Soleil
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . E adereço de cabra corneado
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . Inferno no quintar do vizinho
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . É fógui pintano o céu de anjinhos
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. . . . . . . . . . . . . . . . . . . Espanta, véi, esse rap
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . Lambuzado de mentira
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . Tira o quépi
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . ‘Bora caí na catira
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . Chama as cachorra
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pru nosso maracatu
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . Vai que muito nego morra
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . Sobra mais jabá cum chuchu
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. . . . . . . . . . . . . . . . . . . E os traficante se danaro
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . Indo em cana ou pelo esgoto
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . Mas inté nem saiu caro
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . Que sobra é buraco maroto
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . Nas mil favelas carioca
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . E o tráfico é que nem fábrica
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . Saiu um, tem dez pra troca
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . Só tuma vacina anti-rábica
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . Quem cão mordeu ou odeia bunda
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . Água que não farta... inunda
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. . . . . . . . . . . . . . . . . . . Quem quisé resorvê a querela
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . Anote aí simpatia que não faia
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . Parem logo de criá tanta favela
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . Deixem o povo em paz no campo
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . Onde todo hômi e muié trabaia
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . Se tirá de lá as Nestrê e Monsanto
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . Que ocupa e envenena toda as terra
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . Prantano pra cevá bicho e tumor
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . De braço com o demo que nunca erra
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . O arvo... seu borso cheio, dotô
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. . . . . . . . . . . . . . . . . . . Exprode, véi, esse rap
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . Lambuzado de mentira,
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . Tira o quépi
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . ‘Bora caí na catira
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . Chama as cachorra
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pru nosso maracatu
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . E caso nós tudo morra
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . Vamo junto tumá no... Caju
. . . . ... . . ¬ ¬ ¬. . ¬ ¬ ¬ ¬ ¬. . ¬ ¬ ¬. . ¬ ¬ ¬ ¬ ¬. . ¬ ¬ ¬
A ilustração é uma intervenção sobre a obra Portrait Robo, de Mozart-Arman.

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17 comentários:

JPVeiga - Variz da Meiga e Mariz Conzê disse...

Zamanhoso, a solú é roleta!

Roleta russa pros carinhas que andaro fugino, roleta de ônibus na entrada e saida pra desevintá entrada e saida de quem não qui se preste e roleta paulista pra quem for comprar a droga.
Ah... não sabes o que é roleta paulista? é passar sinal fechado sem olhar - uma roleta tão besta qto a russa!
Coisa...

Aline Chaves disse...

Magnífico, Tuca!

A "maracatira" de vocês é uma preciosa peça de humor e sensibilidade. Sem falar na análise lúcida que nela está contida, sobre a realidade sócio-econômica brasileira.

Obrigado. Por incrível que possa lhe parecer, eu nunca havia associado diretamente esse gravíssimo problema gerado pelas megaempresas do agronegócio, que amarra o país ao subdesenvolvimento e à destruição ecológica, à questão do crescimento da população favelada.

Beijão!

Marisa Veras disse...

Não sei se rio ou se choro, Tuca.

"Quem quisé resorvê a querela
Anote aí simpatia que não faia
Parem logo de criá tanta favela
Deixem o povo em paz no campo
Onde todo hômi e muié trabaia
Se tirá de lá as Nestrê e Monsanto
Que ocupa e envenena toda as terra
Prantano pra cevá bicho e tumor
De braço com o demo que nunca erra
O arvo... seu borso cheio, dotô"

Este trecho é o ponto mais alto dessa letra inspiradíssima. Uma aula de brasilidade e lucidez, bem à altura dessa sua cabeça cheia de criatividade e do seu coraçãozão que tanto me fazem feliz por existirem!

Mil beijos querido!

Gi disse...

Tuca, seu danado! olha lá o que você revela aqui no DS... O que rolou naquele "luau estrelado" nem às paredes confesso! :p
Sua imaginação não tem limites mesmo! ainda bem né, pois quem ganha somos nós que temos o privilégio de acompanhar tamanha criatividade e humor refinados.
E o hit ficou ótimo! seria cômico se não fosse trágico. Só Você mesmo para transformar essa maracutaia toda em versos. Que rendeu uma ótima crítica. Não poderia ser diferente vindo dessa mente tão cheia de idéias e criatividade infindas!

Ah! e essa dupla aí é estouro viu? eu pude ver de perto. Simarães e Zé Candão é o que há de mais sofisticado! Assino embaixo!

Beijo Tuquinha! Você é O cara!

Marli Terezinha Andrucho Boldori disse...

Cá estou lendo seus posts,muito interessantes.Tenha um ótimo final de domingo.Beijos!

vico gonz disse...

Muy ingenioso e interesante post...
genial la ilustración.
El caos es universal!!!

Maria Janice disse...

Pesquisando no google e bing algum dicionário pra facilitar a tradução.
Eitcha criatividade da dupla. Que que trabaião me deram para ler sobre as causas dessa miséria.

beijo

Tuca Zamagna disse...

JP,

A roleta russa já é praticada entre os garotos favelados, desde o momento em que aderem ao tráfico. Eles sabem que a qualquer momento ouvirão (se der tempo pra isso) o clic com bala na agulha. Optam conscientemente por esse risco fatal. Por que será?

Quanto à roleta paulista, é uma velha prática dos garotos da classe média. Já causou muitas baixas nas últimas décadas. Mas a grande maioria escapa e vai consituir novas famílias de classe média, e usufruir do seu "direito" de explorar os favelados que optaram por não entrar para o tráfico, tornando-se mão de obra barata nas indústrias, no comércio, nos serviços públicos menos qualificados e em nossos lares.

Abraços

. . . . . . . . . . . . . . .

Aline,

Não é por acaso que você nunca fez essa asociação. A grande mídia está aí para isso mesmo: informar o que interessa à máfia do agronegócio e à burguesia industrial, seus grandes parceiros.

Beijos

. . . . . . . . . . . . . . .

Marisa,

Faça as duas coisas ao mesmo tempo. O riso torna o choro mais conseqüente, e imune ao câncer da auto-piedade.

Quanto a mim, choro e rio convulsivamente com suas generosas palavras.

Beijos

Lupe disse...

Ameeeei nosso COMPREXO, Tuca. E a postagem toda, com essa ilustração marravilhosa que tem a cara do blog.

Beijão

Suzana Guimarães disse...

Tuca,

É em terra de guerra que o diabo goza.

Adorei a imagem, principalmente (depois dos olhos...) das botas, e, mais ainda da bota de bruxinha.
Olho de feiticeira espiando tudo... a ilustração me fez lembrar do filme " O Incrível Exército de Brancaleone".

Fiquei rindo de você, ontem à noite, com a insônia ensebada...rs! Entendo disso, ensebada, metida à besta mesmo!(E eu também ando exausta...final de ano, não gosto, não...)

Beijos, querido e olha o olho!

Suzana/LILY

Americo Gentil disse...

Viva a maracatira!

Não sei se é possível juntar os dois ritmos, mas se for, ficaria sensacional com a essa letra.

Abraços

Paula Figueiredo disse...

Demais!
Precisamos mesmo resgatar essa brasilidade! Muito legal a proposta daqui...
Falando do que interessa...
Obrigada por sua presença lá!
Abraços! E vamos confiar na vida!

Ah, eu tb sou andrógina então... rs
A dicotomia completa não existe né?

Paula Figueiredo disse...

Absurdo, Incrível, Surreal - é essa nossa realidade... O que eu não aguento mais é ficar aqui parada. bjs

Thiago Quintella de Mattos disse...

Excelente!!!

Marcel Zaner disse...

Um showzaço!

Dois aliás. O Cãndidos, da Simone Guimarães, e esta letra que faz um análise objetiva e profunda dessa questão social que há décadas a grande mídia, a maioria dos políticos e uma parte da classe média fingem ignorar.

Abração

Mariana Quintão disse...

Muito, muito bom!

Leo Wilczek disse...

Genial! Parabéns. Seguindo! ;-D