Falasbu Bulafas Lafasbu . . .
O eminente mascate absírio Lasufba Ab’Fusal, em suas andanças profissionais pelo Brasil, ouviu e anotou dezenas de fábulas que árabes ou descendentes de árabes iam lhe contando. Essas fábulas (ou fabulas, como dizem muitos deles, inclusive Ab’Fusal) são atribuídas a Falasbu Bulafas Lafasbu, um ordenhador de búfalas (ou bufalas) cuja origem e destino ninguém sabe precisar. Paira até uma dúvida: Falasbu teria de fato existido, ou seria, ele mesmo, personagem de sua mais fabulosa fabula?
Bem, Ab’Fusal não entra nessa questão polêmica; apenas tratou de selecionar e publicar em livro 34 das fabulas de Falasbu. A edição é bilingüe: em português e em portugárabe castiço. O título – !Albufas Safubla! – refere-se, segundo Ab’Fusal, a uma expressão que Falasbu usava a torto e a direito, sempre em tom exaltado e grave, porém seguida de uma estrondosa gargalhada. O que significa? “Não faço a mínima idéia”, é o que Ab’Fusal diz que dizem que Falasbu dizia.
Abaixo, uma das fábulas do livro – em portugárabe castiço, naturalmente. Se algum leitor porventura souber português, poderá optar pela versão original, logo a seguir. Basta clicar sobre o texto para ampliá-lo.
A gaminho de Gambinas
Zalim jega na Esdazão Rodoviária de Zão Baulo bor volda das zede e guinze da noide, bredendendo embargar imediadamende bara Gambinas.
No guijê de bazagens, viga zabendo gue agondezeu um imbrevisdo, e o brózimo ônibus zó zairá às oido e vinde. Bergunda endão ze não dem uma zaída mais zedo bara alguma zidade brójima a Gambinas.
– Dem, zim, zenhor – resbonde o rabaz do guijê. – Dem uma zaída agora bara Zanda Gruz das Balmeiras. Viga bem debois, mas é gaminho.
Zalim, gue não era esdúbido nem badeda, berzebeu gue o vunzionário era zírio. E gomo não gonvia em árabes, brinzibalmende como eze, um zeu gonderrâneo, dradou de ze invormar gom oudra bezoa.
– Bor vavor, gara zenhora – diz Zalim, inderzebdando uma velhoda gue ia bazando. – Zaberia me invormar gue ônibus eu bozo begar gue baze berdo de Gambinas?
– O zenhor bode begar o meu. Zai agora bara Vranga.
– Vranga, vilha da galinha?
– Vranga, a derra do zabado.
– Zabado, vesbera de domingo?
– Zabado de galzar no bé.
– Grado, zenhora, mas já esdou muido bem galzado. Zó não vou a bé adé Gambinas borgue os galos andam me ingomodando.
– Leve endão os zeus galos bara gonhezer Vranga, gue dal?.
– Viga berdo de Gambinas?
– Não dão berdinho guando dagui de Zamba, mas o zenhor vaz um bom bazeio e revresga a gabeza, gongorda gomigo?
– Dodalmende. Vou lá gombrar a bazagem. Engondro a zenhora no ônibus.
Enguando a velhoda ze avasdava, Zalim benzou: “Agui bra vozê, zua zerbende libanesa! Bovo do Líbano não vala com vrangueza nem em Vranga nem na Gonjinjina!”
E dradou de gombrar uma bazagem bara Bados de Minas. “Azim Zalim jega rábido a Gambinas. Bados voam melhor gue zabados!”
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Lizão da vábula: Guem dem boga vai a Roma – baseando bor dodo o blaneda!
11 comentários:
Que delícia! Meu bisavô era libanês, e meu pai falou que ele falava enrolado assim ou pior... rsrs
Há algum tempo não ria tanto, de chorar aqui em frente à telinha. Eze zeu dexdo é delizioso! Esdou muido grada, Duduga.
Ósgulos
Muito bom!!! A gente começa a ler com certa dificuldade mas depois pega o embalo e lê naturalmente. Sensacional a confusão que o sírio e a libanesa fazem com "Vranga" e "zabado"! Ri muito. O livro já está a venda?
Verdade, Lupe. Em criança, conheci muitos sírios e libaneses ligados a minha família. Eu não entendia quase nada do "português" que alguns deles falavam.
Grado esdou eu, guerida e gombedende brovezora - e boeda! - Rosangela. Zeu ablauso é esbezialízimo bra mim!
Valeu, Marcel. Quanto ao livro, na verdade, ainda não está nem terminado. Longe disso. Só tem umas 15 “fabulas”, a maioria ainda em fase de acabamento. Pretendo postar mais algumas, se houver receptividade. Mas o incentivo seu, da Rosangela e da Lupe já justifica no mínimo mais uma postagem.
Muito engraçado, Zamagna. O Falabu deu um boa massageada na minha insônia. Vou procurar outra postagem mais antiga pra rir mais e apagar de vez rsrsrs
Hahahahahahahahahaha, bom bra gazede, Duduga.
Veleu, Celinha! Rir é o melhor sonífero...
Grado, Nino! Zua abrovazão voi a goda d'água, zagramendou a minha indenzão de bubligar oudra vabula.
O DESINFORMAÇÃO SELETIVA é tudo de bom. A fábula está perfeita e o portugárabe é o mesmo idioma falado pelo seu Jorge e dona Sumaia, nossos vizinhos da Serra.. Fantástico.
Não me lembro de ter lido algum texto que usasse esse recurso fonético. Mesmo que ele exista, pouco importa, pois você o está usando com muita engenhosidade e graça. Ri muito!
Valeu, Regina! Recomendações ao seu Jorge, dona Sumaia e toda a turcaiada de Beagá!
Já usaram, sim, Afonso, em trechos curtos ou em falas de determinados personagens. Mas num texto inteiro, creio também que nunca foi usado. Obrigado pela força!
Tuca,
Muito boa essa fabúla também.
Seu portugárabe é fantastico, vou tomar aulas com você!
E as outras 32, quando saem?
Ajoelhou...
abço
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