terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Vadia Lorcca

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 .  .ninguém vai poder dizer que eu não disse –– sob   .  .  .os primeiros cascos do dia  ––  a tua cidade noturna
                                                                                                                                                                  Carla Diacov    

tua cidade é teu armamento
veja os espíritos em neon
o silêncio relativo ao silêncio engarrafado e vendido
beneficência onde tudo é concreto
tua cidade é teu armamento veja os espíritos sob as manhãs vermelhas
beneficência onde tudo é decreto
tua cidade é teu sexo teu armamento
veja

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vizinha
a distância é a cidade uma ou duas ou três bicicletas após o teu nariz
queridinha
a distância é a cidade

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uns lugares servem aos outros: a cidade formiga: uns lugares carregam os outros. não há esmola. tua cidade é trespassada pelos teus rastros: não há esmola.

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a cidade se perde dentro de casa. você me olha. o hidrante no meu olho destorce a periferia. preciso cortar tuas unhas e você me olha torto. segundo o mapa não há retorno: a cidade se perde entre as tuas veias.

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dizes AH!: em tudo um filme lindo metido na tua cidade.

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as prostitutas da tua cidade. uma vez minhas, as mães e as igrejas da tua cidade. e num beco qualquer uma condição: alguém estará soprando a poeira de um vinil do banguela chet. os gatos todos da tua cidade e um pequeníssimo susto: alguém acende um apartamento inteiro da tua cidade.

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as janelas e a pronúncia das janelas da tua cidade. as linhas presas nas linhas da tua cidade, os sapatos nos fios, os fios e os sapateiros. o caminho ao largo. o largo passeio. os sobreviventes e os pioneiros e uns mascotes. .barulho de cascos: é a tua cidade: that old feeling e seguimos.atravessando banguelas estações.

domingo, 1 de fevereiro de 2015

Gabriel Caraminholador



.. Gabriel é filho do escritor e designer Jp Mariz da Veiga e da redatora e   .  . 
.tradutora Sabrina Janni, meus vizinhos e únicos amigos que tenho no .
prédio onde moro. Gabriel tem 9 anos – na foto tinha 4 ou 5, e já.
.confeccionava suas primeiras caraminholas. Por exemplo: ..
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– Pai, o padeiro faz pão, a costureira faz costura... E o verdureiro, ele faz verdura?
– Não, Gabriel. O verdureiro vende as verduras que outros plantam.
– E o bombeiro? Faz bombas ou vende as bombas que outros plantam?
– Nem uma coisa nem outra, filho.
– Ah, então ele joga as bombas...
– Não, querido. O bombeiro não joga bomba nenhuma. Ele joga é água no fogo quando acontece algum incêndio.
– Legal. Então, pai, se faltar água aqui em casa, a gente pode fazer um incêndio pro bombeiro trazer água pra nós, né?
– Grande ideia. Fala pra sua mãe que ela vai adorar.
– Falo não. Toda vez que você manda eu fazer isso, se eu faço a mãe rosna pra mim.
– Dessa vez, eu garanto que ela não vai rosnar.
– Jura?
– Juro. Ela vai é te morder direto!
– Hum... Eu sabia que não era uma boa idéia.
– Sabia mas me propôs assim mesmo, só pra não me deixar trabalhar, né?
– Você trabalha demais, pai. O tempo todo escrevendo e desenhando nesse computador.
– Você queria o quê, moleque?
– Que largasse essas porcarias e fosse ganhar dinheiro.
– Chega, filho! Pare de me interromper. E vá tomar o seu leite que tá esfriando na mesa.
– Só mais uma coisinha, pai, uma coisinha só...
– Tá bom, tá bom. Manda.
– Como é que o leiteiro faz o leite?
– Com os peitos, Gabriel, com os peitos! O leiteiro se debruça num balde e espreme os peitos até enchê-lo...
– Hummm... E o chocolate? Aposto que o leiteiro come ele antes de espremer os peitos...
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