terça-feira, 22 de outubro de 2013

A menina dos ovos de ouro

.


 Para Carla Diacov e Larca Vódica  .  .  .  .

Saiu apressada da casca,
bem antes da mãe findar o choco
e do pai cacarejar seus advérbios,
a menina.

Já engatinhava sem meias palavras
e ciscava com os joelhos a terra
e o mar e o céu e o tudo e o caos,
a menina.

“Nunca que vou botar um ovo
branquelo ou beje ou avermelhado” – –   
decidiu. – –  “Ovos meus serão todos
de ouro, ouro do bom, sem impureza
que não seja clorofila, cedilhas e
borboletas bêbadas xingando a mãe
dos órfãos” – –  ô tinhosa, a menina!

E saiu ela pelas ruas a catar
moedas e pauzinhos de picolé,
conchas e guimbas de cigarro,
tartarugas, cobras e lagartos,
hidrantes, clipes e astrolábios,
meninos a empinar carros-pipas,
freiras plantando bananeira
e pensamentos libidinosos
na peruca de corocas e carecas – –
agora, sim, prontinha para botar
                                            toneladas de ovos de ouro..

.