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Luis Bento ... .
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. . . . . . . .À hora marcada os presos recolheram à rudeza fria e esfíngica das celas. Todos, excepto Manuel da Cruz de Sousa Tobias Lettermann. A kilometragem do nome não o impedira de tirar guia de marcha para a penitenciária com carimbo de dolo e burla agravada. Tomara todos os cuidados e precauções: unira-se ostensivamente aos indivíduos de maior índice de massa muscular por centímetro quadrado, untara as mãos aos guardas, habituara-se a olhar de soslaio por cima dos ombros, evitara deixar cair o sabonete no duche e passara uma estadia agradável e isenta de preocupações. As diversas contas em off-shore ali para os lados entre o cruzamento de Gibraltar com New Jersey almofadavam-lhe, comodamente, o sono na tarimba despida de lençóis e preconceitos. Contudo, a permanência no cárcere ao longo daqueles três anos, exacerbara-lhe o desejo e a ansiedade. A privação da liberdade, o carinho da mulher e da filha, os passeios de domingo, as viagens e as mordomias inerentes à qualidade de homem livre, eram chagas num crucifixo ferrugento arrastado, penosamente, num calvário de olho posto naquele dia gizado na parede. Foram sem conta, as cartas manuscritas numa caligrafia ávida de notícias, trémula de nervosismo e faminta de liberdade. Escrevia de rajada, sem pontuação porque não era concurso e sem acentos porque as relia de pé... Piada fácil de escritor, que acentuava a dor e a tormenta duma personagem farta dos exíguos metros quadrados do recreio, calcorreados numa "Ronda dos Prisioneiros" para a qual ele não tinha estofo. Mago de finança fraudulenta, sim! Mago da paleta, não! O daltonismo não lhe deixava margem para sentidos estéticos e pictóricos dignos de Rembrandt.
. . . . . . . .À hora marcada, vestido e perfumado, olhou uma vez mais para o relógio. Os portões começaram a rodar ruidosamente nos gonzos. Ouvia o bater compassado do coração atingir a velocidade da luz num nervosismo sem fim. O bater era cada vez mais forte, mais intenso, ensurdecedor, quase lhe cortando a respiração. Os portões giravam numa lentidão exasperante. Limpava o suor da testa com o suor das mãos. O esgar inicial tornou-se numa torrente de riso. Não agüentou mais! Com os portões escancarados num convite libidinoso, deitou a correr mal divisou a mulher e a filha no outro lado da estrada.
. . . . . . . .– GRRINCCHHHHH.!!! – Tarde demais... na ânsia, não reparara no camião basculante que se apresentava pela direita a alta velocidade... E ali mesmo, transformado em Ketchup, vendera a alma ao criador em papel de vinte e cinco linhas, livrança e estampilha fiscal...
. . . . . . . .MORAL DA HISTÓRIA: Podes querer ser livre, mas... convém olhar para a estrada!
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Liberdade é o título do post: o conto de Luis Bento não tem título na versão que extraímos de seu blog, aqui.
A foto original de Marian Chiriac tem enquadramento mais amplo, conforme pode-se ver em seu blog, aqui.
35 comentários:
Conto massa, Tuca!!!
Feliz por, agora, também conhecer o Bento.
A foto de Chiriac é fantástica!!!!
Beijinhos...
ótimo texto!!!
Muito legal, Tuca. O Luis Bento tem um texto personalíssimo, com um humor corrosivo!
Beijos
Bate bem o Luis Bento!
"A privação da liberdade, o carinho da mulher e da filha, os passeios de domingo, as viagens e as mordomias inerentes à qualidade de homem livre, eram chagas num crucifixo ferrugento arrastado, penosamente, num calvário de olho posto naquele dia gizado na parede."
A elegância unta os miolos do leitor para fazer penetrar a ironia implacável...
Um abraço
woooow qué história trágica, tan divertida ;) LOL Me gusta el humor negro, siempre hace la vida más ligera
lIBERDADE NUM DIA DE ABASTANÇA. QUEM DIRIA?
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Lisboa, 23/09/2010
Falou, Pólen!
Passa nos bolgs dos dois que você vai se fartar de coisa boa.
Beijos
É ótimo mesmo, Rodrigo.
Abraço
Sabia que você ia gostar, Celinha.
Beijos
Gostei dessa análise, Deco. E da expressão "untar os miolos".
Abraço
Cruel, deliciosamente cruel!
Abraços
Muito engraçado e rico este texto. Bom saber que o Luis Bento tem blog, vou dar uma passadinha em Lisboa!
E que foto linda!
Beijos
o Luís Bento é fera.
tem um humor negro e uma ironia refinadíssimos.
grande indicação Tuca!
beijo
Que bom que você gostou, Chiu.
Bjs
Pois é, Jorge Manuel.
Abraços
De fato, Aloisio. Uma dose generosa de crueldade...
Abraços
Valeu, Regina. Boa viagem!
Bjs
Tem mesmo, Marília.
Bjs
Coincidência...
Já conhecia o Luís Bento da "Fabrica de Letras"...
Também gosto muito da sua forma de expressão escrita.
Bj
Bem...cheguei tarde a casa e fui ler os mails...Excelente surpresa! Vinha agradecer a gentileza do Tuca e deparei-me com a generosidade das palavras de tantos comentários. Obrigado! Um feliz acaso trouxe-me até este espaço onde, a par do domínio da narrativa, a ironia e o quotidiano, se passeiam de mãos dadas para nos fazer sorrir e levar " fácil" este nosso mundo. Uma honra estar aqui.
Que texto, Tuca! Eu adoro ler os portugueses, principalmente os que além de escrever bem têm senso de humor apurado.
Epa, olha o Luis Bento aqui em cima! Ô rapaz, meus parabéns! E saiba que além de tudo, és muito charmoso!!!
Beijos para os dois!
Que texto, Tuca! Eu adoro ler os portugueses, principalmente os que além de escrever bem têm senso de humor apurado.
Epa, olha o Luis Bento aqui em cima! Ô rapaz, meus parabéns! E saiba que além de tudo, és muito charmoso!!!
Beijos para os dois!
uau! muito bom esse conto! engraçado, inteligente e com o vocabulário rico e diferente que sós os escritores postugueses possuem.
beijos
Gostei muito do conto! :) é bom pra mim ter alguma coisa pra ler em portugues.
Bjus!
Gostei muito da foto tambem! ;)
Cheguei até o blog dp Luis Bento pela indicação no seu blogroll, Tuca, e o acompanho há uns dez dias. Os textos dele são sensacionais!
Abraço
Cheguei até o blog dp Luis Bento pela indicação no seu blogroll, Tuca, e o acompanho há uns dez dias. Os textos dele são sensacionais!
Abraço
"E ali mesmo, transformado em Ketchup, vendera a alma ao criador em papel de vinte e cinco linhas, livrança e estampilha fiscal..."
kkkkkkkkkkk Muito bom!
Beijos
Ainda volto...tantos os coment´rios...Aline e Isabel ...obrigado pelas palavras...estragam-me com mimos...
Tuca, meu querido carioca (se não for, tá decretado) morador daquele bairro, que todos amam.
Por favor. Avise ao Teopha que não esqueci da Elza, só não tive o prazer de lê-la. E que se gosto da trindade, eu imagino o quarteto.
Muito bom o texto do Luis Bento, bem a cara do blog, não o conhecia, mas vou fuxicar seu blog.
Adorei sua visita e volte sempre.
Bjocas grandes
Ótimo o texto do Bento. Depois vou lá no blog dele.
No do Chiriac eu estive ainda agora, porque adorei esta foto. Excelente o blog. Que fotógrafo!
Beijo
Sensacional! Bento-vai-pra-fora... sucursal brasileira do Bento-vai-pra-dentro! Abraço
Muito muito bom este conto do Luis Bento, como alias parece ser tudo o que ele escreve, eu fico sempre de boca aberta!
E o Desinformaçao Selectiva, parece-me, assim numa primeira visita, um lugar inteligente e cheio daquele humor mordaz e booom.
Beijinhos, vou voltar
Tuca, você sempre descobrindo grandes autores nessa linha crítica e mordaz. Excelente a fábula do Luís Bento!
Abraços
PS: Quando virão novos textos do Campos de Carvalho, do Nonato e do Don Camilo?
Inevitável coincidência, Mari Jo. Todos os que conhecem a Fábrica de Letras, ou qualquer outra unidade relevante do parque industrial literário luso-brasileiro, conhecem o Luis Bento.
Bjs
O autor! O autor!!
Seja bem-vindo, Luis Bento! Espero que tenha aprovado a minha escolha. E que me perdoe a colocação desaprumada de sua foto. Estava certinho, mas a faxineira do blog é meio estabanada...
Um abraço
Vá devagar, Aline. Não sei se o Luis Bento é comprometido...
Beijos
Você também, Isabel, veja se maneira. Pra exaltar os escritores portugueses, não é preciso esculhambar os tupiniquins.
Beijos
Seu português está cada vez melhor, Niña. Mas concordo que é melhor ler o Bento que o Coelho e outros bichos que andam à solta pelo mundo hispânico..
Beijos
Beleza, Antonio!
Finalmente descubro pra que serve o meu blogroll.
Abraço
Também gosto muito desse fecho da história, Maria Regina.
Beijos
O autor! o autor!!
Fique à vontade, Luis Bento. Entre e comente o que quiser. Para nós e para os nossos leitores, será sempre mais um texto - inédito e exclusivo - seu.
Sou mineiro, Ira. Mas não chega a me ralar os brios patrióticos ser chamado de carioca, embora só more aqui desde os seis meses de idade.
A Elza anda postando pouco mesmo. Vou dar um aperto nela.
Beijos
Ótimo texto. A escrita sofisticada, o humor negro e o clima meio absurdo me fizeram lembrar o grande Santos Fernando. Conhece, Tuca?
Abraços
Coisa muito séria o humor do meu xará luso!
Abraço, Tuca
Legal você gostar do texto, Frederica.
O Chiriac eu sabia que ia encantá-la. Ele tem um olhar muito parecido com o seu.
Bjs
Bento-vem-de-caravela... Bento-volta-de-canoa, Marcel.
Abraço
Tem razão, Meldevespa. E obrigado pela visita e pelos elogios. Volte mesmo.
Bjs
Grandes autores, felizmente, há muitos. Pena que as editoras parecem não ver ou fingir que não vêem isso, Thiago.
Falei com Don Camilo sábado passado. Ele me autorizou a publicar outros textos dele.
Do Nonato, tenho muita coisa. Só não postei mais porque... sei lá porquê!
Estou por postar um poema inédito do Campos de Carvalho. Uma prova irrefutável de que ele já era surrealista aos 18 anos!
Abraço
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
muito bom!e como ele me envolveu com a hist'oriaaaa.juro que eu vi as portas se abrirem tb pra mim.haha
=D
ah tuca,sobre aquele poeminha amargurado,eu sou amargurada `as vezes,mas quem n~ao 'e?n'e?hauahuha
meus acentos est~ao malucos, como vc v^e,nada se " assenta" como devia! mas pra que n'e?kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
bjos querido
=]
Granse sacada, Mendonça. Conheço sim o português Santos Fernando. Um craque no humor absurdo. Bom você ter me lembrado, qualquer dia posto um conto dele.
Abraço
Muito séria mesmo, Luis Paulo.
Abraço
Não vem com essa, não, Jenny. As portas estão sempre abertas para você. Mas se não estivessem, você as arrombaria... a gargalhadas!
Bjs, queridíssima
Muchas gracias Tuca por tus comentarios y sobre todo si vienen de un blog tan punzante e ingenioso como el vuestro. Un abrazo.
Os textos do Luis Bento são ótimos. Já os conhecia de seu blog e toda a sua atividade cultural na web.
Juntar conteúdo desse dois blogs (textos seus e os do Luis Bento) é uma dose ( ou overdose?)de bom gosto e qualidade literária.
Luiz Ramos
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